São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Até argentinos torcem pelo Brasil nos EUA

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A PASADENA

Rivais históricos, brasileiros e argentinos se deram as mãos, fizeram fotos abraçados e gritaram, ontem, no Rose Bowl, em Pasadena: "Brasiu!!!, Brasilll!!!, Brasiu!!!, Brasilll!!!".
"É um pouco estranho, eu sei, mas vou torcer pelo Brasil. Na Argentina, todo mundo vai torcer pelo Brasil", diz o professor Patricio Armendares, de Buenos Aires.
Em Pasadena, Armendares, 30, está liderando um grupo de dez argentinos, todos vestindo a camisa da seleção da Argentina e gritando pelo Brasil.
"Estamos nos dando bem com os brasileiros. Pelo menos até agora", diz, posando para fotos com um grupo de turistas de São Paulo.
Armendares e seu grupo têm ingressos para a partida final. "Tínhamos certeza de que a Argentina chegaria lá", suspira.
O vidraceiro Salomon Argueta, 30, natural de El Salvador, torce de forma tão fanática pelo Brasil que ficou feliz mesmo quando a seleção de seu país perdeu para os brasileiros nos EUA, por 4 a 0, em um amistoso antes da Copa.
"Torci pelo Brasil naquele jogo, em Fresno. Nós não temos futebol. Por que vou torcer pelo meu time? Vou torcer pelo time que joga o melhor futebol do mundo", diz Argueta, que veio a Pasadena vestindo o uniforme completo da seleção brasileira.
"Somos países-irmãos. Além do mais, o Brasil foi o único país latino-americano que sobrou na Copa", diz o engenheiro mexicano Tomas Medina, 29, enrolado numa bandeira do México.
Medina e seu colega, o também engenheiro Edgar Castro, 29, vieram do México especialmente para a partida. Castro veste uma camisa do Brasil e explica a sua devoção assim: "Os brasileiros são muito alegres, festivos. Adoro isso".
Castro não deve ter observado como são desanimados muitos dos torcedores brasileiros. Antes de todas as partidas, eles sempre protagonizam uma mesma cena.
Até alguns torcedores suíços, cuja seleção foi eliminada nas oitavas-de-final, passeavam pelo estádio, antes do jogo, com a bandeira brasileira.
Vinte torcedores com a camisa da seleção descansam embaixo de uma árvore. Estão cabisbaixos, desanimados. Aproxima-se uma câmera de TV. Eles se levantam.
O repórter da TV chega perto e pede: "Quando eu falar já, vocês comecem a gritar". Dito e feito. Ao sinal, os torcedores começam a gritar "Brasiu!!! Brasiu!!!".
Trinta segundos depois, ao fim da reportagem, voltam a se sentar desanimados.
Em minoria, os suecos foram a Pasadena vestindo o tradicional uniforme de guerra deles: cara pintada de azul e amarelo e chapéu de viking, um capacete de plástico com dois chifres de plástico apontados para os lados.
"Um brasileiro ofereceu US$ 200 pelo meu chapéu em Detroit. Custa US$ 5. Juro. Ele colocou o dinheiro na minha mão", conta o açougueiro Nicklas Andersson, 23.
"Não temos medo de ser minoria. Os brasileiros são bem tranquilos. Não são hooligans como os alemães", diz o padeiro "viking" Pen Wernersson, 27.

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