São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Previdência e bancos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A Previdência Social vai gastar, este ano, US$ 250 milhões só com a remuneração aos bancos (a maioria, oficiais) por serviços prestados, como o pagamento de benefícios.
É uma quantia imponente para qualquer empresa e mesmo para qualquer país. Com esse dinheiro, cobre-se 37,7% do custo do aumento salarial que o governo se prepara para conceder aos militares, orçado em US$ 663 milhões.
Dá ainda para pagar 320 mil aposentadorias por mês desde que equivalentes a um salário mínimo. Ou, pelas contas do repórter Vinicius Torres Freire, desta Folha, dá para construir 250 escolas ao custo de US$ 1 milhão cada, que é o preço na cidade de São Paulo (o mais elevado).
É claro que não se trata de propor que a Previdência faça ela própria o trabalho que os bancos executam e pelos quais, naturalmente, cobram.
Mas cabe, sim, questionar se não está havendo um pagamento exagerado. Surgem dois tipos de dúvidas.
A primeira: a Previdência informa que paga R$ 1,20 para documentos acolhidos pelos bancos no período de 1 a 14 de cada mês. Mas o preço cai para R$ 1,00, no caso de documentos manipulados do dia 15 em diante.
Não consigo encontrar um único motivo razoável para que seja mais caro manusear o mesmo tipo de documento na primeira ou na segunda quinzena. Note o leitor que há, aí, uma diferença ponderável, de 20% em cada documento.
A segunda dúvida: a Telesp, informa o Painel desta Folha, conseguiu reduzir à metade (para R$ 0,60) o custo da cobrança das contas telefônicas. Ora, a Previdência paga, para parte dos benefícios que os bancos processam, entre R$ 1,00 e R$ 1,20, o dobro ou quase, portanto.
Não parece ser tão mais custoso processar uma conta telefônica do que um benefício previdenciário. Logo, deve haver espaço para a Previdência renegociar as tarifas que está pagando.
Os banqueiros, está provado, não necessitam de advogados defensores, mas os cofres públicos sim. E desesperadamente.

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