São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Ex-soldados 'invadem' Itália a turismo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em julho de 1944, um tipo especial de "turista" desembarcava na Itália: o primeiro grupo de soldados da FEB, a Força Expedicionária Brasileira. Foram parar em algumas das regiões mais belas daquele país, que hoje são centros turísticos por excelência, mas na época eram pobres como boa parte da Itália.
Para o turista brasileiro, visitar essas cidades do norte italiano, de regiões como Toscana, Emília-Romanha, Lombardia e Piemonte, tem um significado especial. Foram brasileiros que ajudaram a libertar essa região do nazismo, e a boa acolhida que os brasileiros têm ali prova que isso não foi esquecido 50 anos depois.
Os primeiros 5.081 homens dos 25.445 que constituiriam a FEB chegaram em Nápoles a 16 de julho de 1944, e entraram em combate pela primeira vez em setembro seguinte.
Cinquenta anos depois, é preciso um esforço de imaginação para entender o que significava mandar tantos soldados para a Europa.
Na década de 40, eram raríssimos os brasileiros que viajavam ao exterior. De repente, se mandou mais gente do que costumava viajar mesmo em tempos de paz. Não é exagero dizer que a FEB inventou o turismo de massa no Brasil.
A FEB foi um reforço providencial às tropas aliadas na Itália, que tinham sido desfalcadas para proporcionar forças para a invasão do sul da França, em seguida ao desembarque na Normandia.
Os aliados retiraram sete divisões (unidades com cerca de 15 mil soldados) da Itália nessa época, o que inviabilizou grandes ofensivas para desalojar os alemães das posições que ainda ocupavam no norte do país.
Os montes apeninos hoje são um dos maiores atrativos dessa região serrana, cobertos hoje de uma vegetação impressionante. Em 1944/45, eles eram o inferno dos brasileiros –cobertos de neve, sem vegetação e com alemães bem posicionados atirando nos brasileiros em baixo.
Os brasileiros chegaram quase no final da campanha italiana. Tiveram que aprender praticamente tudo para se incorporarem ao exército americano, já que antes estavam acostumados a equipamento e treinamento de origem francesa.
Gente acostumada com o calor do Nordeste ou de Copacabana lutou no mais rigoroso inverno que a Itália teve em muitos anos.
Mesmo 50 anos depois, muitos brasileiros ainda se perguntam como a FEB se saiu em combate. "A resposta curta é muito bem", diz o historiador militar americano Frank McCann.
"A FEB completou todas as missões que lhe foram confiadas e pode ser comparada favoravelmente com as divisões americanas do 4º Corpo", afirma McCann.
A FEB teve perto de 2.000 baixas em ação, inclusive mais de 450 mortos e desaparecidos. Foram enterrados em Pistóia e repatriados depois da guerra.
Hoje estão no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra, no Rio de Janeiro. Resta apenas um, de um soldado brasileiro desconhecido, ainda enterrado em Pistóia.
A gratidão dos italianos teve um exemplo recente quando veteranos visitaram o cemitério para uma cerimônia oficial. Lá estava a professora Rosanna Pacinotti, que tinha 20 anos quando conheceu o tenente mineiro Walter de Oliveira.
Ele ajudou a família dela a sobreviver ao rigoroso inverno de 44/45. Foi apelidado de "Grande Cuore" ("Grande Coração").
Nenhum dos cerca de 40 veteranos presentes se lembrava do tenente. Mas o presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, Sérgio Gomes Pereira, prometeu a Rosanna procurar nos arquivos informações sobre Oliveira.

LEIA MAIS
Sobre o roteiro dos pracinhas na Itália na pág. 6-21.

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