São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Parreira era "burro" e agora virou gênio?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Domingo vai ter feijoada da mamma! Domingo o Parreirão do meu coração vai provar para aquela massa ignara, que o chamou de burro durante toda a fase classificatória e nos jogos da etapa inicial da Copa, que nem tudo acaba em pizza.
Ou melhor, o Parreirão vai mostrar que o Brasil é que vai fazer pizza do time italiano. Pizza de "formaggio di Baggio".
E onde é que foi parar aquela corja de cronistas e subcronistas de futebol que só fazia espinafrar o homem? Tomaram chá de sumiço?
Quer dizer que agora que o Parreirão do meu coração levou o Brasil à final, depois de uma dolorosa espera de 24 anos, ele não é mais burro, não é mais turrão, não comete mais erros táticos? Sei, sei.
É cômico. Agora, os mesmos cronistas e subcronistas de futebol que instigavam Parreira a colocar o coração no lugar da cabeça andam dispensando toda sorte de elogio ao técnico da seleção. Agora, Parreira está sendo chamado de "determinado", de "aplicado". Sei, sei.
A "pátria de chuteiras" não engole gente como Parreira. A "pátria de chuteiras" tem asco da cautela, do método, do pragmatismo, da racionalidade. A "pátria de chuteiras" pressupõe que o ponto alto de sua essência seja um mix colorido de emoção, simpatia e dependência de uma força superior que solucione todos os seus problemas.
Ou não é verdade que a frieza de Nelson Piquet sempre o indispôs com a mídia e com o torcedor tapuia? Ou não é verdade que a frieza de Parreira quase causou uma crise coletiva de histeria no país?
Alô, colegas da imprensa! Alô, leitores incrédulos que vêm rindo desde a malfadada derrota contra a Bolívia na fase classificatória, quando eu dizia que Parreira era o único brasileiro com qualidades para levar a seleção ao tetra. Por que é que agora vocês não chupam o dedo, hein?
No próximo domingo, temos só uma coisa a temer: depois do jogo, o país corre o risco de sofrer uma overdose de cerveja. Ou melhor, uma overdose de propaganda de cerveja.
Assim que a Copa acabar, se alguém me convidar para mais uma festinha patrocinada por uma cervejaria ou se eu for exposta a mais um anúncio de cerveja, juro que sucumbo. E me mudo para a Patagônia.

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