São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Mesmo cansada, a Itália exige respeito

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Meus amigos, meus inimigos, o Brasil, mais inteiro, mais íntegro fisicamente, pegará uma Itália que vem, exaurida, de uma longa e acidentada jornada na 15ª Copa do Mundo de futebol, nos EUA.
Além disso, neste pouco tempo de recuperação (em termos de Copa do Mundo) de três dias, ainda enfrentou um vôo de cinco horas, mais uma diferença de fuso de três, para jogar contra o Brasil na costa oeste.
O Brasil está praticamente em casa. Ficou na Califórnia a maior parte do tempo. Está aclimatado, adaptado ao ecossistema, ao ambiente, à arena do espetáculo.
Ganhar em uma Copa significa ganhar nos detalhes. Os detalhes estão soprando favoravelmente à seleção brasileira.
A Itália sem Baggio, o zen-budista Roberto (ou Roby, como escreve a imprensa italiana) perde não só a sua principal inteligência, como também o seu principal finalizador. Perde duplamente.
Fala-se que o time italiano não vem jogando bem. Isto é verdade. Mas é preciso levar em consideração que eles pegaram pela frente a pior coleção de adversários. Não tiveram inimigo fraco.
Jogaram, pela ordem, contra a Irlanda (0 x 1), a Noruega (1 x 0) e o México (1 x 1), na primeira fase. Três times difíceis, México inclusive.
Foram à guerra contra a Nigéria –outra pedreira– vencida na prorrogação. Depois passaram pela Espanha, um time que é um inferno na marcação.
Finalmente pegaram a Bulgária, que havia eliminado "só" a Argentina e a tricampeã Alemanha. Nenhum outro time nesta Copa passou por tanta provação.
Estão cansados de tanta batalha. Mas são bravos guerreiros e merecem respeito.
Um ponto em comum entre as seleções brasileira e italiana é que as duas têm dois jogadores suspensos por agressão. Dois defensores. Leonardo, do Brasil, e Mauro Tassoti, da Itália (joga no Milan).
Leonardo deu uma cotovelada em Tab Ramos. Fraturou um osso da face do uruguaio-americano. Estava na cara do juiz. A televisão mostrou claramente o que aconteceu. Foi expulso de campo.
Pena: suspensão por quatro jogos internacionais.
Tudo leva a crer que Tassoti deu uma cotovelada no nariz do espanhol Luis Enrique. Prova do crime: sangue jorrando pelo nariz do jogador da Espanha. Evidências: a TV não mostra claramente.
O juiz não viu. Tassoti não foi expulso. Uma comissão da Fifa examinou as imagens que, repito, não são absolutamente explícitas, embora induzam a concluir que houve a agressão.
Pena: suspensão por oito jogos internacionais. O dobro de Leonardo.
É o caso mais comentado, no momento, sobre a atuação da Fifa. Há quem ache que a punição de Leonardo foi atenuada e que a de Tassoti foi exagerada.
Luis Enrique, o próprio agredido, de nariz quebrado, achou a pena excessiva e o seu caso menos grave do que o de Leonardo. Muita gente por aqui fala que o Brasil está sendo favorecido pela Fifa.
O caso Leonardo-Tassotti drenou mais água para esse moinho. Na minha opinião, a pena de oito jogos deveria ser imputada aos dois. Para o bem do futebol.

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