São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Chineses temem um 'terremoto social'

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China teme um "terremoto social". Depois de mais de 15 anos de reformas e crescimento econômico, o país enfrenta os efeitos negativos da "revolução capitalista" feita pelo PC chinês.
Inflação, desemprego e enfraquecimento do poder central representam o pesadelo dos atuais "mandarins de Pequim".
Em 1978, a China liderada por Deng Xiaoping deslanchou reformas para criar a "economia socilista de mercado". O país mais populoso do mundo entrou num ritmo frenético de crescimento.
Segundo o Banco Mundial, a China deve ter a maior economia do planeta já na primeira década do próximo século.
As taxas de crescimento anual flutuaram na casa dos 13% em 1992 e 1993, primeiro lugar no ranking mundial. A China comunista se tornou uma Meca para investidores estrangeiros.
Agora, o governo busca desacelerar a economia para evitar os amargos efeitos colaterais deste "grande salto para a frente".
Em março passado, a China decidiu baixar a velocidade do crescimento neste ano para 9%.
Entre os principais mecanismos para evitar o superaquecimento da economia estão restrições ao investimento em construção civil. Só em 1993, o preço do ferro subiu 93,6% e do cimento, 64,2%.
A desaceleração dos investimentos em construção mostrou resultados positivos em abril, quando a espiral inflacionária também perdeu velocidade.
Naquele mês, os preços subiram 21,7%, se comparados com abril de 1993, enquanto em março essa taxa foi de 22,4%.
A diferença foi pequena, mas já serviu como injeção de ânimo ao governo do premiê Li Peng.
O dragão da inflação incomoda o Partido Comunista. Ele sabe que a subida dos preços foi uma das molas que impulsionaram as manifestações pró-democracia de 1989, brutalmente reprimidas.
"Sufocar a inflação, estabilizar o mercado e controlar os preços são no momento as chaves para se resolver corretamente a relação entre reforma, desenvolvimento e estabilidade", disse o vice-premiê Zou Jiahua ao "Diário do Povo", o porta-voz do poder comunista.
O medo de um "terremoto social" se alimenta ainda do desemprego e de desafios ao poder central. Na fase atual, as reformas capitalistas se concentram nas cidades próximas ao litoral, que atraem trabalhadores do interior.
Segundo dados oficiais, 50 milhões de agricultores partiram para os centros urbanos em 1993. O "Diário do Povo" estima que atulmente há um exército de 20 milhões de pessoas vagando pelo país em busca de melhores salários.
O desemprego, estimado pelo governo em 3% para 94, também ronda as empresas estatais despreparadas para enfrentar a concorrência na economia de mercado.
Um terço delas opera com prejuízo e não vai à falência graças à ajuda do governo, através de subsídios e crédito barato –que colocam lenha na fogueira da inflação.
As diferenças de renda se acentuam e algumas já desafiam o poder central. Guansu, uma das províncias mais pobres, reclama por vender matéria-prima a preços controlados pelo governo e por ser obrigada a comprar produtos manufaturados a preços de mercado.
"A China tem 900 milhões de habitantes nas áreas rurais, o que corresponde ao principal fator de estabilidade para o país", analisou o premiê Li Peng.
O governo busca agora diminuir impostos sobre a atividade agrícola e promete "acabar com a paralisia que atinge alguns funcionários do partido no interior do país".
O governo se empenha em priorizar os chamados "interesses nacionais", ou seja, evitar uma instabilidade que possa ameaçar o poder do Partido Comunista.
Um editorial do "Diário do Povo" deu a receita: controlar a inflação, melhorar a rede de transportes, ampliar as fontes de energia e abandonar a corrida "cega" rumo ao crescimento econômico.

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