São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Filósofo belga alerta para 'totalitarismo' do 1º Mundo

DA REDAÇÃO

Por trás das previsões catastróficas sobre o risco de superpopulação do planeta, existe uma doutrina de tendência totalitária da qual países em desenvolvimento, como o Brasil, precisam se proteger.
A opinião é do filósofo e teólogo belga Michel Schooyans, 64, da Universidade de Louvain, na Bélgica, que está de passagem pelo Brasil.
"É um totalitarismo de tipo novo", diz Schooyans, que morou no Brasil de 1959 a 1969, quando lecionou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Costumo chamar isso de doutrina da segurança demográfica."
O governo dos EUA, diz ele, tem um relatório que mostra "da maneira mais clara, mais explícita aquela nova preocupação (...) de controlar o surto de crescimento da população nos países pobres".
A doutrina da segurança demográfica estaria sendo apresentada através da linguagem de "novos direitos" a serem conquistados pelo cidadão pobre de países do Terceiro Mundo –entre eles, o direito ao aborto.
Segundo Schooyans, há um relatório do governo dos EUA da década de 70 que faz essa sugestão de maneira explícita.
Outra maneira de difundir a doutrina seria através do ambientalismo. "A primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland, disse que é evidente que, para respeitar o meio ambiente, nós deveremos encarar medidas demográficas mais fortes".
Técnicas modernas de contracepção serviriam para cumprir os objetivos da doutrina.
"Desde o início aparece o intuito político do caso. A pílula, por exemplo, foi testada, não vamos esquecer isso, em Porto Rico."
O próprio financiamento de pesquisas científicas teria uma conotação política.
"Se você vai pedir uma verba para lutar contra a malária, por exemplo, você dificilmente vai conseguir uma grande verba internacional. Enquanto que, se você quiser uma verba para a RU 486 (a pílula abortiva, ou "do dia seguinte"), você vai encontrar", diz o filósofo.
Para ele, o objetivo de controlar o crescimento populacional de países como o Brasil e outros da América do Sul é extremamente nocivo.
"Isso significa que a possibilidade de se criar um mercado integrado latino-americano vai recuando, se afastando", diz. "Se você não tiver uma certa densidade de população, é impossível criar economias de escalas."
Além de permitir que a população cresça para viabilizar o fortalecimento econômico, na opinião de Schooyans, o Brasil precisa ser muito cauteloso durante a conferência internacional que a ONU vai promover no Cairo, em setembro, sobre demografia.
"Se houver um consenso sobre a esterilização, sobre o aborto (...), e sobre o controle da população sobre os países pobres, a idéia de consenso vai ser invocada para contestar o direito dos povos a dispor de si mesmos."

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