São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Sem vermelho

Nesta segunda-feira o presidente possivelmente decidirá sobre a concessão de aumentos salarias para o funcionalismo público. O pleito é justo. Os salários estão baixos.
Entretanto, o equilíbrio nas contas do Estado é um requisito fundamental para que a estabilização da economia seja duradoura. E o fato de que o controle da inflação traz benefícios a toda a população faz dele uma prioridade absoluta.
Majorações salariais de até 29%, como as que se cogitam, implicariam gastos adicionais da ordem de US$ 3 bilhões, para os quais não há receitas previstas. Assim, é necessário que o governo equacione essa demanda nos limites de suas disponibilidades orçamentárias.
Se o aumento for dado num arroubo populista, ignorando a exigência do equilíbrio, então o governo estará prejudicando toda a população para beneficiar alguns.
A repetição de situações em que a deterioração dos salários ou serviços públicos transformam-se em crise mostra que não se trata de uma eventualidade. O empreguismo, a falta de critérios e de planejamento, as pressões fisiológicas tornam esses problemas recorrentes. Sua solução, portanto, depende de iniciativas de maior fôlego.
Rever as necessidades de pessoal da administração direta, restringindo radicalmente novas contratações –de motivação quase sempre duvidosa–, realocar funcionários ociosos para setores carentes de pessoal seriam algumas iniciativas convenientes, se o objetivo do governo for obter algo mais do que um efêmero paliativo.
As atuais pressões salariais são uma das várias fontes de corrosão do equilíbrio fiscal. Empresas estatais deficitárias e bancos públicos perdulários –e também resistentes às necessárias reformas– são permanentes ameaças potenciais.
Nesse sentido, para não chegar a situações próximas do impasse, como a atual, e para afastar do horizonte possíveis turbulências, nada seria mais saudável do que acelerar o processo de privatizações e manter rigidamente o compromisso de não ceder a pressões para novas linhas de crédito aos bancos estaduais.
Neste período em que o mundo todo passa por rápidas transformações, o setor público não pode acomodar-se. No Brasil, o Estado deve à sociedade seu "reengineering", ou seja, sua própria reestruturação.

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