São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994 |
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RUMO A NETRÓPOLIS
MARIA ERCILIA
Netrópolis (net = rede) é o neologismo lançado pela revista inglesa "New Scientist", para definir a comunidade global que começa a se delinear em torno das redes de comunicação via computador. Trata-se de uma caótica rede em que o único meio de expressão é o texto escrito, e que faz crer que a vanguarda do pensamento hoje se deslocou da arte para as margens ainda em explosão da tecnologia. A "mãe de todas as redes", criação de pesquisadores americanos açulados pela paranóia da Guerra Fria (leia texto à pág. 6-5), subsiste em universidades, e começa a desenvolver ramos comerciais. Até uma nova língua, anárquica e selvagem, parece brotar neste mundo paralelo. Acrônimos, desenhos e abreviações convergem numa forma de comunicação altamente eficiente, com a imediatez da conversa e a precisão do texto. A "arma" que retira o computador de isolamento não é novidade: o modem, periférico simples e barato, que o conecta ao telefone. Num futuro próximo, o computador que não se conectar será uma máquina morta. A comunicação por computador vai ser tão útil e invisível quanto o telefone. Talvez perca parte da aura aventureira que a envolve. Hoje as redes de computador se entrelaçam numa pacífica confusão, onde a informação transbordante é de graça, ou quase. Por causa desta gratuidade mesmo, tem muito lixo na Internet. O bom viajante da rede tem um precioso caderno de endereços, onde ele encontra a obra de Shakespeare, algum interessante ensaio inédito, um bom papo... Mas, como alegria alternativa dura pouco, a grande brincadeira está em vias de virar grande negócio. O governo americano investe maciçamente nas fundações da "superinfovia" (veja ilustração abaixo). Quem pilota o projeto é Al Gore, apelidado de "presidente virtual". O vice-presidente americano quer conectar o país inteiro. Uma rede de fibras óticas ligará supercomputadores por todo o país. TV, computador e telefone serão integrados num supereletrodoméstico. A tecnologia-chave, em desenvolvimento, é a "set top-box" (leia texto à pág. 6-5). Devido à ênfase do governo Clinton na comunicação digital, a Internet virou assunto da mídia como nunca antes. Seus 20 a 40 milhões de usuários, que se sentem à vontade num sistema árido para os não-iniciados, sentem-se ameaçados. É como se uma praia de hippies e alternativos estivesse a ponto de virar uma grande Miami. Com esta revolução, que provavelmente não se retringirá aos EUA, o ciberespaço, hoje uma fronteira semidesconhecida, pode se transformar num shopping monstro, mais propício ao consumo que à experimentação. Texto Anterior: Entenda a polêmica Próximo Texto: O QUE JÁ É POSSÍVEL; O QUE PODE SURGIR Índice |
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