São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Jovens abusam de bebidas alcoólicas

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovem bebe muito. Os números provam. Em pesquisa realizada em 93 entre estudantes da Escola de Medicina da USP, 80% dos alunos beberam nos 30 dias que antecederam a entrevista.
Outra pesquisa –realizada em 89 pelo Cebrid (Centro de informações sobre drogas)– indicava que 84% dos alunos de primeiro e segundo graus de São Paulo já tiveram contato com o álcool.
Apesar da bebida ser socialmente aceita, o consumo de álcool na adolescência causa sérios problemas (leia textos abaixo).
Outro fator que tem preocupado os especialistas é a idade em que as pessoas estão começando a beber. "Elas bebem quando ainda nem deixaram de ser crianças", diz Dartiu Xavier, do Proad (Programa de Assistência à Dependência).
Isso é fácil de perceber nas ruas. Em uma noite de sexta-feira na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), a Folha encontrou vários teens bebendo, e muito.
Todos afirmaram "bebemorar" nos finais de semana.
"Eu bebo para me divertir", disse Mariana (os nomes são fictícios), 15. A garota tomou seu primeiro porre aos 13 anos.
"Enchi a cara em uma festa de 15 anos e dei o maior vexame."
Sua amiga Renata, 16, era a mais empolgada. Ela diz beber quase todos os fins-de-semana, mas afirma nunca ter ficado "muito bêbada". "Já fiquei bem tontinha, de até tentar vomitar e não conseguir."
Para o psiquiatra Arthur Guerra, diretor do Grea (Grupo de Estudos Interdisciplinares do Álcool), as pessoas não bebem só por diversão.
"Beber na adolescência está ligado à necessidade de transgredir as normas e de tomar atitudes consideradas de adulto", diz.
Fernando, 17, assume gostar de transgredir. "Gosto de provar para meu pai que sou maluco." Ele diz que bebe cachaça de manhã antes de ir para a escola.
Fernando é capaz de beber misturas esquisitas. "A coisa mais estranha que já bebi foi licor com vinho, cerveja, mel e açúcar, tudo no mesmo copo."
Por que fez isso? "Porque eu sou jovem. Quando tiver uns 20 anos pretendo ficar sério", diz.
Segundo Arthur Guerra, muitos dos jovens que "enchem a cara" na adolescência passam a beber menos depois.
Foi o que aconteceu com Anderson, 20. "Quando eu era mais novo bebia até cair, tive coma alcoólico quando tinha 17 anos. Agora só bebo socialmente."

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