São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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CONCERTOS PARA A JUVENTUDE

GABRIEL BASTOS JUNIOR
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Este mês está acontecendo o 25º Festival de Inverno de Campos do Jordão (175 km a nordeste de São Paulo).
O evento é basicamente de música erudita e acontece também em São Paulo e em várias cidades do interior do Estado.
Além da programação de concertos, uma série de cursos, palestras e workshops envolve 600 estudantes de música, erudita ou popular, de todo o país (só em Campos estão 325).
Os cursos são como bolsas de estudo –além de serem gratuitos, incluem hospedagem e alimentação. Seus participantes são conhecidos como "bolsistas".
Eles podem ser considerados a nova geração da música erudita. Uma moçada que não tem preconceito com a música popular e que está longe da imagem chata e careta que se tem do gênero.
Samuel da Silva Santos, 18, trompetista da sinfônica de bolsistas, diz que também gosta de tocar em "big bands".
"A formação erudita dá uma ampla visão do som, do instrumento", diz, "mas o músico de orquestra é limitado."
Eles está preocupado com a falta de audiência da música erudita. Em Joinville (SC), onde mora, faz concertos em que mistura música folclórica alemã –"para chamar público".
Companheiro de Samuel na orquestra, Wender Mariano de Oliveira, 15, saiu de Anápolis (GO) para aperfeiçoar sua técnica no trombone de vara.
Cursando o primeiro ano do segundo grau, "Dedé", como ficou conhecido entre os bolsistas, quer fazer faculdade de música e se tornar maestro.
Enquanto a hora não chega, ele toca do popular ao sacro em sete grupos diferentes (entre bandas e conjuntos) e participou, como convidado, da Orquestra Filarmônica do Estado de Goiás.
Segundo estes "eruditos", falta informação ao grande público. "Uma sinfonia de Chostakóvitch (compositor russo) é mais pesada que Iron Maiden", opina Fábio Schio, 18.
Ele conhece os dois lados da moeda. Toca viola (parecido com violino, só que maior e mais grave) na sinfonieta (orquestra reduzida) de bolsistas.
Mas sua iniciação na música foi mesmo tocando guitarra. "Tenho mais discos do Iron Maiden do que eruditos", diz.
"Depois de um dia de ensaio, não vou chegar em casa e ouvir um CD erudito", brinca.
Como a maioria dos bolsistas, ele está preocupado com o futuro da música erudita. "Não adianta tocar para ninguém."
Profissionais
Fora do grupo de bolsistas, dois teens brasileiros participaram deste Festival de Inverno.
Os irmãos Alexandre, 18, e Pablo Zappelini de León, 16, fazem parte do corpo da Orquestra Jazz Sinfônica. Tocam violino e viola respectivamente.
Sua história segue mais a imagem que se tem dos "eruditos". O pai também toca (viola na Jazz Sinfônica) e, quando pequenos, fizeram testes vocacionais para saber se poderiam ser músicos.
Em casa, só ouvem música erudita, mas não são fechados. "Me acostumei com rock indo a festas. Hoje gosto de Sepultura", confessa Alexandre.

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