São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Elma queria que PC 'tocasse fogo no país'

'Meu marido não agiu sozinho", dizia

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Paulo, você tem que tocar fogo nesse país, entregar todo mundo e acabar de vez com essa história."
Com esse apelo, Elma Farias, 44, tentou, repetidas vezes, levar o seu marido PC a contar tudo que sabe sobre as relações entre empresários e políticos no país.
Como sempre, PC pedia calma à sua mulher, adiando as possíveis revelações. "Contarei tudo no tempo oportuno, à Justiça", dizia.
A Folha presenciou pelo menos três situações, nas residências do casal em Maceió e São Paulo, nas quais Elma incentivava PC a abrir o seu arquivo.
"Esse homem tem sangue frio, sangue de barata", dizia Elma, rindo, espantada com a calma de PC diante do tiroteio de denúncias que sofria.
Nessas ocasiões, o ex-tesoureiro da campanha de Collor pedia "paciência" à mulher e dizia que não poderia promover nenhum alvoroço nem precipitação, sob pena de se prejudicar juridicamente.
"Chefão"
Em Bancoc, Tailândia, quando PC foi preso, no final do ano passado, Elma mesma cuidou de fazer os ataques, nos corredores da sede da Polícia de Imigração.
Impedida pelos tailandeses de ver o marido, se voltou contra o ex-presidente Collor: "Ele (PC) não agiu sozinho. O chefe maior, o chefão, foi quem mandou", disse, referindo-se a Collor.
A mulher de PC definia o ex-presidente como "um traidor" e não compreendia a falta de solidariedade de Collor com seu ex-tesoureiro de campanha.
A cada ameaça que fazia, segundo Elma, os telefones das suas casas, tanto em Maceió como em São Paulo, não paravam de tocar.
"São empresários e políticos que temem que a gente abra a boca de uma vez por todas", contava a mulher de PC.
Suíça
Elma Farias e os seus dois filhos, Paulo, 12, e Ingrid, 14, se preparavam agora para voltar à Suíça. A viagem estava prevista para a próxima semana.
Os advogados de PC já haviam comunicado o fato à Justiça. Elma e os filhos moraram uma temporada, no ano passado, naquele país.
O desejo de PC era que os filhos estudassem lá. Essa seria uma maneira, também, de evitar o constrangimento das visitas à prisão.
Mesmo impaciente com o prolongamento da sua prisão preventiva, PC tentava passar a impressão, para Elma e os filhos, que estava tranquilo.
PC está preso desde dezembro. Ainda aguarda o julgamento do seu caso, que deverá acontecer nos próximos meses, no STF (Supremo Tribunal Federal).

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