São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Decisão da Copa decepciona

PAUL GARDNER
DO "USA TODAY"

A final da Copa dos EUA não foi um grande jogo. Brasil e Itália geraram desapontamento e tédio. Com um elenco de estrelas mundiais em campo, tivemos um empate sem gols.
Nenhum jogador foi capaz de quebrar a bem organizada defesa, ninguém foi capaz de controlar o meio-campo.
Talvez o meio-campo não seja mais uma área que possa ser controlada por armadores.
O jogo moderno empacotou o meio-campo com corredores energéticos, jogadores polivalentes de quem se espera gasto prodigioso de forças atacando e defendendo. Tática –logo, os técnicos– tomaram o poder.
Os jogadores têm que trabalhar duro e se encaixar em papéis pré-estabelecidos. A individualidade virou deficiência no meio-campo moderno. O técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira segue a tendência.
Mauro Silva e Dunga são primordialmente jogadores de defesa. Zinho e Mazinho são mais notáveis por seu esforço do que por sua criatividade.
Sem criadores, o futebol ganha um ar de entediante falta de objetivo. Os meio-campistas correm de um lado para o outro trocando passes –a maioria laterais ou para trás.
A bola "enfiada" é coisa rara.
O problema do Brasil é mais complexo, porque todos os outros times temiam seu poder de explosão.
"Todas as equipes mudam sua tática quando jogam contra nós", disse o jogador Bebeto. É verdade.
Os Estados Unidos e a Suécia mal atacaram contra o Brasil; a Holanda não fez o que poderia ser chamado de ataque até que os brasileiros estivessem à frente no marcador. Na final, a tática italiana era movida a contra-ataques.
Não houve uma preocupação dos meio-campistas em atacar. A cautela, que corrói o futebol moderno, reinou.
A seleção venceu porque foi capaz de manter a posse de bola no meio-campo enquanto esperava oportunidades, mais do que por ter criado ou aberto espaços.
Para a maioria dos fãs, Brasil significa criatividade efervescente, procura de gols. O time desapontou porque não foi o Brasil voltado para o ataque dos velhos tempos.
A seleção se limitou à mediocridade. E o que incomoda é que a tática da precaução compensou.
Hoje o Brasil é o rei do futebol defensivo? Que traição isso seria.
No entanto, dos quatro brasileiros incluídos na seleção da Fifa, três –Aldair, Márcio Santos e Dunga– são jogadores voltados à defesa.
Se até o Brasil tem falta de um armador, há alguma esperança para o restante dos times? Essa linhagem está ameaçada de extinção.
Não exatamente.
Houve verdadeiros armadores na Copa 94. Um exemplo é o norte-americano Tab Ramos, embora não tenha jogado seu melhor futebol, sacrificado que foi pelos esquemas táticos de Bora Milutinovic.
O boliviano Sanchez teve o melhor jogo isolado como um meio-campo criador, com um desempenho brilhante contra a Espanha.
A Argentina deu alento ao esporte. Porém Maradona, o gênio criador do meio-campo em pessoa, nos deixou na mão –uma pena, pois nunca vimos todo seu potencial ao lado de Simeone e Redondo.
Pode ser atráves de mudanças nas regras ou nas atitudes, mas o fato é que o esporte precisa de criadores. Sem eles, o futebol vira um esporte de fundistas.

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