São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Rivalidade Rio-São Paulo volta com tetra

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

A volta da seleção brasileira ao país reacendeu a surrada rivalidade Rio-São Paulo. A celeuma chegou ao seu ponto culminante numa desastrada performance do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, nos EUA.
Embriagado, atacou a "imprensa paulista", com a falsa acusação de que teria feito "campanha" contra o Brasil. E anunciou o cancelamento da passagem da seleção por São Paulo.
Ontem, no Rio, o presidente da CBF negou-se a falar à Folha. Indagado sobre porque não daria declarações ao jornal, respondeu: "Porque não".
No dia 22 de agosto do ano passado, quando o Brasil venceu por 2 a 0 o Equador, no estádio do Morumbui, surgiram as primeiras queixas de jogadores à torcida paulista, que vaiou Parreira e Zagalo, pedindo a nomeação de Telê Santana, técnico do São Paulo.
As críticas não eram, contudo, exclusividade de torcedores e jornalistas paulistanos. Os mais irritados com a seleção eram exatamente os cariocas, que clamavam, com todo o Brasil, pela convocação do ex-vascaíno Romário.
"Se Carlos Alberto Parreira sonhava em entrar para a história, em sua segunda passagem pela equipe nacional, já conseguiu. E o fez pela porta dos fundos", escreveu o jornal "O Globo", do Rio, depois da inédita derrota da seleção para a Bolívia.
Na Copa, a perspectiva da vitória amorteceu críticas e terminou reavivando um jornalismo ufanista e aderente de outras épocas –caso notório da Rede Globo, que depois de ter praticamente pedido a cabeça de Parreira, liderou o triunfalismo patriótico do tetra.
Mais crítica, a Rede Bandeirantes, sediada em São Paulo, acabou sendo alvo de um anúncio fúnebre no "Jornal do Brasil", também do Rio, que comunicava a morte do programa "Apito Final" –mesa-redonda da emissora.
A Redação do jornal, no dia 16, que se seguiu ao anúncio, publicou nota lamentando o fato, que não seria de conhecimento da Redação.
Mais uma vez, a richa entre as duas principais cidades do país –que encontra paralelo em outros países, como a Itália, por exemplo, onde Milão e Roma vivem a trocar farpas– vai cumprindo sua função: fixar preconceitos e dar vazão a emocionalismos.

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