São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Presente do tetra

SÍLVIO LANCELLOTTI

Ricardo Teixeira ganhou o Mundial e, de gorjeta, recebeu do sogro, João Havelange, um posto no comitê executivo da Fifa.
Depois de mais de duas décadas se aposentou Abílio de Almeida, o eterno representante do Brasil na entidade.
Teixeira assumiu a sua posição, um dos 22 cargos do comitê. Não se sabe exatamente que tarefas exercerá. Talvez comande o departamento da truculência. De todo modo, ao menos sentou praça na organização. Havelange sonha em passar o seu poder ao genro na próxima eleição da Fifa, em 1998.
Apenas uma semana após a entronização de Teixeira, todavia, os bastidores da entidade já fermentam na oposição às fantasias de Havelange. Hoje começam a repercutir, na mídia internacional, dois episódios em nada favoráveis às pretensões de Teixeira.
Primeiro, os seus exageros alcoólicos nas noites de Los Gatos e na festa de celebração do tetra. Depois, o escândalo do imenso excesso de bagagem da delegação do Brasil, que entrou no país sem o pagamento dos impostos. Trata-se de pratos suculentos para a fome ambiciosa do principal vice de Havelange, o italiano Antonio Matarrese, e do secretário da Fifa, o suíço Sepp Blatter, declarados candidatos de plantão.
Teixeira é um amador na política internacional do futebol –e obviamente não sobreviverá um minuto na entidade sem o apoio de Havelange. Pior para ele, Havelange ostenta um caráter ultraconservador e não deve se alegrar com a pública autópsia do comportamento patético do genro.
Dessa dualidade, com certeza, vão se aproveitar o esperto Matarrese, "O Homem da Máfia" segundo a imprensa da Bota, e o azougue Blatter, um especialista nas tramas de corredor e no desfrute dos escorregões alheios.
A próxima reunião da Fifa acontecerá no dia 26 de outubro, em Nova York, e nela oficialmente se debatará o caso de Viacheslav Koloskov, o representante da extinta URSS –que detinha uma posição vitalícia no comitê desde a década de 50.
Até algumas semanas atrás, fazia parte das fantasias de Havelange encaixar Teixeira na vaga inevitável de Koloskov. Embora inimigos pessoais, Matarrese e Blatter estarão unidos no combate a tal presunção. "A Europa colocou sete seleções entre as oito melhores do Mundial", observa Matarrese. "E a Europa organizará a próxima competição. A Europa não mais admitirá o loteamento do seu poder na Fifa".

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