São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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'Diário Roubado' é um delicado e trágico romance entre garotas

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Diário Roubado
Produção: França, 1992
Direção: Christine Lipinska
Elenco: Elodie Bouchez, Edwige Navarro, Benoit Magimel
Onde: a partir de hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema e Arouche B

No começo, tudo faz crer que se trata de mais um filme francês "em busca do tempo perdido" do imediato pós-Segunda Guerra no país, com suas imagens bucólicas, sua alegria juvenil, suas canções entoadas em coro numa cidadezinha de província, sua narração em "off" em primeira pessoa.
Aos poucos, porém, essa história de quatro jovens amigos –as garotas Virginie e Anne, os rapazes Maurice e Jacques– vai passando do idílio à tragédia. As pulsões individuais vão deixando de corresponder às expectativas morais da comunidade; ao mesmo tempo, vêm à tona os estragos sentimentais causados pela guerra.
Tudo gira em torno da bela Virginie (Elodie Bouchez), por quem os outros três jovens se apaixonam. Quem, entre eles, toma a dianteira na conquista de seu coração e de seu desejo é a não menos bela Anne (Edwige Navarro).
O amor entre as duas, registrado no diário de Virginie que dá título ao filme, é narrado com uma tal delicadeza que seria uma grosseria associar a ele a estigmatizada expressão "lesbianismo".
Se o erotismo é um tema difícil de ser tratado no cinema sem que se caia na vulgaridade ou na hipocrisia, a dificuldade se multiplica quando se trata do chamado homoerotismo –e a diretora Christine Lipinska, amparada por um roteiro bem construído (a partir do romance de Régine Desforges), vence bem o desafio.
Seu filme não é uma obra-prima que vá revolucionar a história do cinema, mas tem o grande mérito de misturar dois temas habitualmente apartados –o amor entre mulheres e os traumas de guerra– sem cair nos clichês e estereótipos que costumam infestar o tratamento de ambos.
Os acertos do roteiro e o bom controle do ritmo da narração compensam com folga a relativa falta de brilho da direção.
A seu favor, o filme conta ainda com um belo elenco, com destaque para a irresistível Elodie Bouchez, 20, que, com seu talento e beleza, tem tudo para ser uma das estrelas francesas dos próximos anos. Outra presença luminosa é a de Marie Riviére, a protagonista e co-roteirista de "O Raio Verde" de Eric Rohmer, no papel de Lucie, confidente das amantes.

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