São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Itamar vai decidir percentual de reajuste

SÔNIA MOSSRI; MÔNICA IZAGUIRRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco decidiu definir pessoalmente o percentual de reajuste do funcionalismo público por causa da falta de consenso no governo.
Depois de nova reunião ontem com a equipe econômica, Secretaria de Administração Federal e Estado-Maior das Forças Armadas, Itamar irritou-se com as divergências sobre as fontes de receita para o aumento.
O ministro-chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, poderá preparar ainda neste final de semana uma medida provisória sobre o aumento, caso Itamar defina os índices no final de semana.
Hargreaves faz questão de afirmar que não se trata de aumento, mas de correção de tabelas de carreiras do funcionalismo por causa do processo de isonomia entre o Executivo, Legislativo e Judiciário.
O presidente passará o final de semana com os documentos da área econômica e da Secretaria de Administração Federal. Na reunião de ontem, Canhim voltou a questionar os dados de arrecadação da Receita.
Itamar não gostou da proposta dos ministérios da Fazenda e do Planejamento de parcelar em quatro vezes o reajuste de 29% para os militares e 18% para os civis.
O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, teve influência decisiva na oposição de Itamar à proposta da área econômica, reforçando os argumentos do amigo Romildo Canhim, titular da Secretaria de Administração Federal, de que há recursos disponíveis para o aumento.
Zenildo disse ao presidente que era preferível não dar nenhum aumento agora caso seja decidido pelo parcelamento em quatro vezes, a partir de setembro.
A posição de Zenildo provocou uma divisão na área militar. Os ministros da Marinha, Ivan Serpa, e o chefe do Emfa, Arnaldo Leite Pereira, são favoráveis ao reajuste parcelado.
Segundo a Folha apurou, a assessoria do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, está preocupada também com a influência do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Mauro Durante.
A equipe da Fazenda afirma que é antipatizada por Durante, especialmente após a saída de Osiris Lopes Filho da Receita Federal. Osiris foi indicado por Durante.
Avalia-se que Durante é um aliado de Zenildo e Canhim na disputa pela concessão de um reajuste maior para os funcionários públicos.
Por isso mesmo, a Fazenda e o Planejamento buscam o auxílio de Hargreaves para tentar evitar que Itamar autorize um aumento que possa comprometer o equilíbrio das contas públicas em 94.
Além disso, a área econômica pretende convocar mais uma vez o candidato da aliança PSDB-PFL-PTB a presidente, Fernando Henrique Cardoso, para que Itamar não dê um reajuste que contrarie as alternativas apresentadas pela Fazenda.
No mês passado, o presidente Itamar Franco quase editou uma medida provisória aumentando em 28,86% os salários do funcionalismo. Ele apenas recuou da decisão depois de pressionado por Fernando Henrique Cardoso, que o conveceu de que o reajuste prejudicaria o plano.
Na ocasião, o ministro Rubens Ricupero também ameaçou se demitir caso o reajuste fosse concedido.

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