São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Leia a íntegra do pronunciamento

Ministério da Fazenda
Gabinete do Ministro de Estado
Assessoria Especial
Discurso do ministro de Estado da Fazenda, Rubens Ricupero, em cadeia nacional de rádio e televisão
22 de julho de 1994
Boa tarde.
Nestas três semanas do real, você começou a sentir o que é viver em um país sem inflação. Parecia impossível que isso pudesse acontecer no Brasil. Mas está acontecendo. Os preços da gasolina, do álcool, do gás de cozinha, da luz, os preços em geral não mudaram mais, enquanto alguns começaram a perder a gordura e estão diminuindo. Os índices divulgados agora ainda estão indicando a inflação de junho, que não existe mais, como um automóvel com os faróis voltados para trás. Daqui a pouco, em agosto, os índices vão ser mais baixos, pois vão medir só a inflação em real, que quase terá desaparecido.
O custo da cesta básica já caiu 2,19%, entre o dia 1º e o dia de ontem, dia 21. Veja bem, compare com os últimos meses, quando em 20 dias o seu salário perdia até 30% do poder de compra. Agora, não apenas o salário deixou de ser corroído, como ainda por cima muitos preços estão caindo.
É essa a sensação de viver em uma economia estável, normal, sem inflação. Os preços não variam, ou quando variam é por causa de uma seca, de uma inundação da geada, como vimos há pouco tempo e voltam a cair quando a safra se normaliza. Os preços deixam de ser o resultado da ansiedade da inflação, ou da especulação, para serem uma soma simples que junta, de um lado, os custos do que entra na fabricação do produto, como a mão-de-obra, a matéria-prima, o transporte; e de outro, um lucro razoável, que é a recompensa para quem investiu, gerou empregos, trabalhou duro na produção.
O que você está vendo acontecer de bom com o real é o resultado de dois esforços que se combinaram para vencer a inflação.
De um lado, o governo do presidente Itamar Franco fez a sua parte, criando um dinheiro forte, que está garantido por reservas em dólar e porque existe na lei o fundamental.
De outro lado, você, cidadão, está fazendo a sua parte, tão ou mais importante ainda do que a do governo. Você é que está valorizando o real sempre que procura o menor preço, cada vez que compra só o necessário, voltando as costas para quem abusa dos preços, deixando o seu dinheiro na poupança. É a cidadania que luta pelos seus direitos, que conhece a sua força, que compreende que para valorizar o seu, é preciso defender o poder de compra do dinheiro. Os brasileiros estão orgulhosos do real porque sentem as vantagens de viver sem inflação.
A mesma mudança ocorre entre empresários e comerciantes que começam a adotar uma atitude nova, pois podem prever os seus gastos, planejar para o futuro, investir com segurança. Com o aumento do poder de compra do dinheiro e com preços razoáveis, a clientela vai ficar firma, as vendas aumentam. Ganha mais quem tem mais capacidade de reduzir custos, quem é capaz de produzir por menos, vender mais barato, oferecer as melhores escolhas. Está acabando o tempo do lucro fácil, do ganho na especulação financeira.
O governo está atento às preocupações dos empresários e sabe que neste processo de adaptação é preciso diminuir os impostos e aumentar o financiamento para aumentar as exportações, criar empregos e melhorar a produção.
Mas aqui dentro ainda há muitos preços que precisam baixar e voltar ao que eram antes dos abusos. Você, que vai atrás da melhor compra, tem notado como os preços ainda variam muito de loja para loja, às vezes na mesma rede de supermercados, até mesmo de uma loja para a que está ao lado. Com o real é mais fácil comparar os preços.
É aí que entram duas responsabilidades importantes. Uma, a do empresário que deve assumir de uma vez o espírito do real: buscar o lucro justo e procurar ganhar mais vendendo mais, não aumentando os preços para ganhar muito com poucas vendas.
A outra responsabilidade é sua, do consumidor, que deve continuar mobilizado. Como tenho repetido, estamos apenas no início do começo. Está sendo evidentemente um bom começo, mas não podemos baixar a guarda agora, só porque está dando certo. Nenhuma vitória se consegue antes de terminadas todas as batalhas. E muito menos se, ao menor sinal de um sucesso, a gente começa a sentir a euforia fácil antes da hora certa.
Na luta contra a inflação, como na vida, não existe mágica nem vitória fácil.
Por isso, vou continuar pedindo a sua colaboração –essa mesma colaboração que vem garantindo a derrubada da inflação e o sucesso do real.
Compare os preços. Não compre na primeira loja em que entra. O seu esforço vai valer a pena.
Escolha sempre o produto mais barato.
Não compre mais do que o necessário. Se não for urgente, espera um pouco para comprar, porque os preços estão estáveis e vão ter que cair ainda mais.
Não entre em uma onda de consumismo só porque você sente o valor do dinheiro que tem.
Aos mais jovens, peço que participem dessa resistência. Não comprem por modismo, por mera onda, comprem o melhor e mais barato.
Evite comprar a prestação, porque os juros ainda estão altos e tem gente abusando no crediário.
Valorize o seu dinheiro: exija o troco certo, não aceite arredondamentos, guarde as moedas com cuidado e não deixe que estraguem as notas do real. Exija também a Nota Fiscal, para ajudar a combater a sonegação de impostos e diminuir a carga que pesa sobre os honestos que pagam.
Economize. Faça poupança. Ninguém constrói nada sem poupar primeiro. E, com dinheiro para comprar à vista, você sempre compra melhor.
Gostaria agora de me dirigir a você, dona-de-casa, a você, aposentado, que me honra com a sua atenção. Muitos de vocês têm-me procurado para dizer que estão preparando listas comparando os preços. Peço a vocês que procurem divulgar essas listas, pois esta é uma das melhores maneiras de premiar os comerciantes corretos e castigar os que abusam. Peça ao seu Prefeito, aos Vereadores, ao jornal da cidade que publique listas das lojas de produtos baratos e das lojas careiras. Há muitas formas de fazer isso. Colar as listas nas agências de bancos e correios, publicar nos jornais e biletins de clubes, igrejas, associações, empresas, escolas, afixar comunicados em quadros de avisos. Dirijo também um apelo aos jornais, rádio e televisão: porque não criam uma coluna diária de serviço ao público dando informação sobre a variação dos preços na cidade, no bairro? Não se trata de ser a favor ou contra ninguém mas apenas de divulgar os fatos objetivos. Em algumas cidades já estão fazendo isso. Porque não estender o hábito a todo o Brasil?
Peço também que me mandem sugestões práticas como essa.
Continue a seguir esses conselhos. Fale com seus filhos, seus amigos, seus colegas, seus vizinhos. Acredite. você vai sentir orgulho de participar dessa vitória que os brasileiros estão conquistando a cada dia que passa.
Muito obrigado e boa tarde.

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