São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Técnicos culpam Britto por crise na Saúde

Ex-ministro suspendeu repasses da Previdência

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Previdência e atual candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Antônio Britto, é acusado por técnicos do Ministério da Saúde de ser um dos responsáveis pelo estado de calamidade no setor.
O então ministro Britto cortou os pagamentos que eram feitos pela Previdência à Saúde até maio do ano passado para o pagamento dos aposentados.
Cerca de US$ 250 milhões mensais deixaram de ser repassados.
Ao assumir o Ministério da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso chegou a ser alertado para os problemas que a Saúde enfrentaria, mas aceitou a decisão do colega de ministério.
Em reunião no Palácio do Planalto, ficou decidido que os repasses passariam a ser feitos pela Secretaria do Tesouro.
No entanto, atrasos consecutivos causaram uma perda de US$ 5,3 bilhões aos cofres da Saúde entre maio e dezembro de 1993.
Ao invés de US$ 12,8 bilhões, como estava previsto, a Saúde recebeu do Tesouro US$ 7,5 bilhões.
Só para o pagamento dos hospitais conveniados eram necessários US$ 6,6 bilhões, e apenas US$ 4,4 bilhões foram repassados.
Os atrasos do Tesouro também ocasionaram a redução quase à metade dos gastos da Saúde por habitante, de US$ 83,60 previstos para US$ 49,00.
A situação ficou ainda mais difícil porque, até o Tesouro começar a repassar, a Saúde passou a contar apenas com os recursos da Cofins (Contribuição Sobre Financiamento Social), recolhido às empresas e ainda sob embargo judicial.
"Houve crime de responsabilidade", diz o secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, Gilson Carvalho.
"Passamos a ser um peso para a Fazenda, vistos como criminosos e bandalheiros", afirma o secretário.
Economia
O que foi perda para a Saúde aparece como "economia" no boletim publicado pelo ministério da Previdência na época.
O corte diminuiu o déficit previdenciário e aumentou a popularidade de Britto.
"A Previdência Social fechou o mês de maio com um saldo de US$ 413 milhões. Pela primeira vez desde janeiro deste ano o saldo registrou variação mensal positiva", diz o boletim, de junho de 1993.
Apesar de ter sido considerado "emergencial" na época, o pagamento, previsto na Constituição, de parte dos recursos da Previdência à Saúde não foi retomado.
"O resultado é que gradativamente chegamos ao estado de calamidade em que a Saúde se encontra hoje", afirma o deputado Jamil Haddad (PSB–RJ), que era o ministro da Saúde no período e não aceitou a decisão.
Ex-porta voz de Tancredo Neves –eleito presidente em 1985 e morto sem assumir o cargo, em abril daquele ano– Antônio Britto se elegeu deputado federal pelo Rio Grande do Sul em 1990.
Ele ocupou o Ministério da Previdência até o fim do ano passado, quando se desincompatibilizou para disputar cargo eletivo.
Em março, o ex-ministro foi escolhido candidato ao governo do Rio Grande do Sul em pré-convenção do PMDB gaúcho.

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