São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Liquidez entre os bancos deve melhorar

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

A correção da Ufir (Unidade Fiscal de Referência) tende a destravar o fluxo de dinheiro no mercado interbancário a partir de segunda-feira até o próximo dia 1º de agosto, pelo menos, reduzindo bastante a dimensão da crise de liquidez de alguns pequenos bancos.
Essa é a previsão do vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado Moraes, e do diretor-financeiro do Banco Fenícia, César Locatelli.
Isso porque eles acreditam que a variação diária da Ufir será mantida até o dia 1º de agosto, quando esse indexador, comparado com o valor do primeiro dia útil de julho, terá que refletir o IPCA-E
Efeito da Ufir
A correção diária da Ufir, segundo Moraes e Locatelli, elimina um dos motivos que estavam travando o giro de dinheiro no interbancário, gerando as chamadas "poças de liquidez".
É que quando um banco repassava dinheiro a outro, o PIS de 0,75% incidia sobre o juro integral cobrado. Isso porque a regra em vigor limita a dedução da despesa de captação à variação da Ufir no dia, que era de zero até sexta-feira passada.
Para repassar o dinheiro sem prejuízo, o banco tinha que embutir o custo dessa tributação aumentando o juro em cerca de 1%.
Com isso, uma taxa de 8,20% ao mês no overnight teria que subir para 8,28%, num processo em cascata à medida que o dinheiro fosse girando.
Os bancos esperam que essa "cunha fiscal" seja definitivamente abolida dentro do conjunto de mudanças na tributação das operações financeiras já anunciadas pela equipe econômica e reiteradas na quinta-feira passada pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan.
A finalidade dessas mudanças, explicou Malan, é a de adequar a tributação para um ambiente de inflação e juros baixos.
Ele disse também que o problema do PIS apontado pelos bancos já foi analisado tecnicamente pelo BC, mas que a decisão definitiva depende do Ministério da Fazenda, depois de ouvida a Receita Federal.
A expectativa é que a questão seja resolvida na provável reedição da medida provisória que a criou, prevista para o próximo dia 30.
Crédito reaberto
Outro fato favorável à normalização do giro de dinheiro entre os bancos ocorreu na quinta-feira passada, pouco antes da reunião realizada em São Paulo, entre a diretoria do Banco Central e presidentes das entidades do setor financeiro.
Segundo a Folha apurou, um grupo seleto de grandes banqueiros nacionais e dirigentes de bancos estrangeiros reuniu-se e decidiu que todos voltariam a financiar carteiras de títulos federais, estaduais e municipais dos pequenos bancos múltiplos classificados na faixa de baixo risco de crédito.
Para estes, o preço será a redução dos chamados "PUs" (preços unitários) desses papéis, definindo seus novos valores de mercado, já embutido o desconto da taxa de risco de cada tipo de título.
Isso significa que, dependendo da composição das carteiras, os financiamentos no interbancário vão cobrir algo estimado entre 70% e 93% do seu valor de face. A diferença terá que ser bancada com capital de giro próprio ou com a venda de ativos.
A reabertura do crédito no interbancário não impede, porém, que novas instituições de pequeno porte venham a quebrar.
Primeiro porque elas dificilmente terão acesso ao dinheiro dos grandes bancos. Segundo porque a linha de redesconto do BC, cujas taxas foram cortadas pela metade, funciona –a exemplo da conta garantida– para resolver problemas momentâneos de liquidez e não para recompor desequilíbrios financeiros estruturais.

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