São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Uma pequena crise

DA REDAÇÃO

O Banco Central teve de apagar incêndios nas três primeiras semanas do real. A nova política monetária é incompleta e precisa de reparos que não podem ser feitos pela atual equipe econômica –dependem do novo governo eleito.
É difícil colocar um freio nos bancos estaduais que são capazes de criar moeda –emitindo títulos para pagar dívidas de seus Executivos e inundando o mercado de "papagaios".
Encarar este jogo seriamente significa comprar uma briga federal com os governadores. É inviável, hoje, ainda mais diante da aliança de FHC com partidos fisiológicos como o PFL, que detém o comando de várias máquinas estaduais.
O BC não consegue também acabar com o redesconto automático das posições das instituições financeiras –a cobertura de posições para as quais elas não tinham dinheiro para bancar e que são tapadas via empréstimos.
Tornou-se bastante claro que as "minicrises" de liquidez identificadas na semana passada tiveram boa parte de sua origem nos "micos" dos governos municipais e estaduais em poder de pequenos bancos.
É tradição destes governos pagarem taxa mais elevada que as já extorsivas existentes no mercado –o risco tradicional cobrado de maus pagadores. Para carregar estes títulos e garantir rentabilidade mais alta, os pequenos bancos precisam oferecer taxas mais atraentes para captar dinheiro para financiar suas carteiras.
Com o aperto iniciado com o Plano Real, os grandes operadores do mercado –que começam a ter seu "float" afetado pela queda da inflação e pela regra de que tudo que entra como depósito à vista novo vai para o BC– passaram a ter de ganhar dinheiro aumentando as margens entre o que podem pagar ao aplicador e o que conseguem obter de remuneração do governo na compra de títulos públicos.
Com menos dinheiro na praça, o risco aumentou e os grandes operadores tornaram-se mais cautelosos. Na dúvida, preferem passar o dinheiro para o BC. Para quem se arrisca no mercado atrás de ganhos rápidos, como as pequenas instituições, a aposta ficou mais pesada. Financiar posições tornou-se mais caro e as margens de lucro caíram.
Com bons papéis em carteira, estas instituições navegariam de algum modo. Com papéis de quitação duvidosa, as chances de pane –e quebra– cresceram.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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