São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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O mercado já se ajusta à inflação zero

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Antes mesmo de conhecer o desfecho do principal ponto negativo a ameaçar a execução do Plano Real –a questão salarial dos servidores federais–, o Banco Central resolveu derrubar a taxa do over-selic na quinta-feira. O desabamento, de uma vez só, foi de dois pontos percentuais.
O BC recomprou informalmente títulos públicos, injetando dinheiro nos bancos, a 8,30%. E colocou a projeção de rentabilidade efetiva do over este mês exatamente no patamar anunciado por Pedro Malan no dia 14: 7,05%.
Os motivos do desabamento do over:
1) O IPC-R, que é o índice oficial de inflação calculado pelo IBGE, referente ao período entre 8 de junho e 7 de julho, ficou aquém das expectativas. Comentou-se no mercado um índice de até 8%. E foi de 5,03%.
2) Os índices ponta-a-ponta mostram que a inflação gravita em torno do zero. Eles até podem, em consequência da retração de consumo, ser negativos.
3) Os novos compulsórios bancários são mais do que suficientes para controlar a quantidade de moeda em circulação no sistema, dispensando o concurso de juros reais muito elevados.
4) A atitude conservadora dos investidores, que nas primeiras três semanas do real mantiveram-se fiéis aos ativos financeiros, também colaboram para a redução da taxa de juro real.
Há dois modos de se enxergar as taxas de juros. Se a rentabilidade dos ativos financeiros for comparada com a inflação apurada pela média pode mostrar-se frustrante.
O CDI-over deverá render este mês, segundo o mercado futuro de juros da BM&F, 6,62%, ou apenas 1,06% acima da expectativa de "Dinheiro Vivo" para o IPC-Fipe fechado do mês, de 5,5%.
Mas, se a comparação for feita com a inflação medida pelo critério ponta-a-ponta, a satisfação estará garantida.
No ponta-a-ponta –que leva em consideração somente a alta de preços ocorrida "durante" o período da aplicação– a inflação tende a zero. Ou seja, o ganho nominal –de 4,37% de amanhã até o dia 24 de agosto, segundo o DI futuro– transforma-se em real.
Para as empresas, a opção de investimento mais segura e rentável é o hedge CDB pré/DI futuro, cujo ganho é o CDI à vista. Os fundos são alternativa, desde que se pesquise muito. As perdas cambiais ainda afetam o ganho dos fundos de commodities.
Praticamente metade das carteiras está com rendimento abaixo do CDI no acumulado do mês, até dia 19. Algumas acusam prejuízo. O fraco desempenho não atinge apenas os fundos com perfil de hedge cambial, mas também aqueles cuja preocupação é acompanhar o CDI.
Os que não se livraram das NTN cambiais nem travaram operações de box de café antes da entrada do real estão perdendo. Seu rendimento, quando existe, está entre 50% e 70% do CDI.

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