São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Trabalhadores obtêm aumento de até 41%

Percentual é aplicado sobre pisos já convertidos em URV

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

As categorias com data-base em julho, que pela lei não deveriam ter reajuste, já conseguiram acumular aumentos de até 41% sobre os salários convertidos em URV.
É o caso das costureiras de São Paulo. Após obter reajuste em março de 6,25%, elas conseguiram mais 32,81% sobre junho na média dos três pisos salariais.
No caso dos salários mais altos da categoria, o reajuste obtido em julho foi de 14%. Esse percentual acumulado com os 6,25% de março dá um total de 21,13% sobre os salários em URV.
"Foram necessárias dez rodadas de uma negociação dura para obtermos o primeiro acordo com o setor privado depois da implantação do real", disse Eunice Cabral, presidente do Sindicato das Costureiras e Trabalhadores na Indústria de Vestuário de São Paulo e Osasco, filiado à Força Sindical e com 99 mil trabalhadores na base.
Segundo ela, os empresários dos quatro sindicatos patronais envolvidos argumentavam que, pela lei, o reajuste deveria vir só na próxima data-base. Diziam que com a moeda forte e inflação menor houve aumento no poder de compra.
Athanase Nicolas, diretor do Sindvest e sócio-diretor da Artemis, diz que não acredita em perdas com o plano econômico. "Mas não há como negar que os salários estão muito baixos", afirmou.
Também os 20 mil trabalhadores na indústria de calçados de São Paulo, Mogi Mirim, Rio Grande da Serra, Guarulhos e ABC, com data-base após a implantação do real, conseguiram fechar acordo salarial com reajuste.
Em assembléia na última sexta-feira eles aprovaram aumento de 15% sobre os salários de junho. "Nas condições atuais, estamos satisfeitos", afirmou Orlando Silva Filho, diretor do sindicato da categoria, filiado à CUT.
Até mesmo a estatal Vale do Rio Doce concedeu a seus 17 mil funcionários, também com data-base em julho, mais do que propunha a lei: 7% mais abonos.
Após a implantação do real, categorias fortes sem data-base agora continuam a obter antecipações. Os químicos de Guarulhos, por exemplo, já conseguiram em cinco pequenas e médias empresas até 10% de reajuste.
Os próprios dirigentes sindicais sindicais admitem que em julho, com a queda da inflação, houve ganhos no poder aquisitivo.
"O plano é positivo por causa disso", disse Paulo Pereira da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da executiva da Força Sindical.
Mas ninguém –economista, empresário ou trabalhador– consegue afirmar se o fim do chamado "imposto inflacionário", calculado em cerca de US$ 1,5 bilhão ao mês, é suficiente para compensar a inflação de 5% estimada pelo IPC-r para julho.
Paulinho não deixa de pedir o gatilho de 8%. "É uma forma de garantir salários das categorias fracas sem prejudicar o plano."
Já CUT vai detonar a partir de agosto a campanha salarial de duas categorias fortíssimas: bancários e petroleiros, cerca de 700 mil com data-base em setembro.
Em encontro nesse final de semana em São Paulo os bancários discutiam a necessidade de reajuste de até 139% sobre agosto.
A CUT pretende ainda unir outras categorias na campanha e reforçar a luta pelo reajuste mensal.

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