São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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Justiça revê 'caso de magia negra'

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Será exumado nos próximos dias o corpo que, teoricamente, é o do garoto Evandro Ramos Caetano, 6. O menino teria sido morto num "ritual satânico', segundo a polícia.
Sete pessoas estão presas sob acusação de sequestrar e matar o menino no dia 6 de abril de 1992, em Guaratuba (131 km a leste de Curitiba).
O pedido de exumação foi feito pelo advogado de defesa Antonio Augusto Figueiredo Basto, 29, de Curitiba (PR).
Ele encaminha o pedido de exumação ao desembargador Plínio Cachuba, do Tribunal de Justiça do Paraná.
"O caso é uma farsa, todos os depoimentos dos acusados foram feitos sob coação, não há provas materiais que os incriminem", afirma Basto.
A defesa dos acusados quer a exumação para esclarecer pontos não abordados no inquérito judicial, inclusive o exame de DNA.
"Não sabemos nem se o corpo encontrado é o do menino Evandro", diz o advogado Basto.
O médico legista Nelson Massini, notabilizado por ter esclarecido os casos da morte do seringueiro Chico Mendes e do nazista Josef Mengele, se comprometeu a fazer, para a Justiça paranaense, a perícia no corpo exumado.
O caso saiu da esfera policial e avançou ano passado, quando o promotor especial Antônio César Cioffi de Moura acatou todas as investigações da polícia.
Cioffi denunciou sete pessoas, sob acusação de sequestrar e matar Evandro Caetano.
Os denunciados são Celina e Beatriz Abagge, mulher e filha do ex-prefeito de Guaratuba, Aldo Abagge, os pais-de-santo Oswaldo Marceneiro e Vicente Ferreira, o ajudante Davi dos Santos e dois assessores do ex-prefeito, Airton Bardelli e Francisco Sérgio Cristofolini.
Em outubro de 1993, a juíza Anésia Kowalski, de Guaratuba, pronunciou os sete acusados, isto é, admitiu todas as acusações oferecidas à Justiça pelo promotor.
Agora, todos os passos dados pela Justiça paranaense estão sendo colocados em cheque. Caberá ao perito Massini a palavra final.
Entre as provas elencadas pela defesa e que desmontariam a versão da polícia, surge a talvez mais contundente de todo o processo.
Trata-se da morte de César Samuel Ruppel, 27, ocorrida em 23 de outubro de 1992.
Ruppel foi responsável pelo transporte do corpo do menino do local do crime até Paranaguá (PR), onde houve a primeira autópsia.
O advogado Basto sustenta que a polícia descartou do inquérito investigações sobre a morte de Ruppel.
"César foi morto em circunstâncias misteriosas, com mal súbito, e certamente por envenenamento. E o corpo que dizem ser o do menino Evandro teve suas características adulteradas. Foi vestido e despido, foi mexido", diz.
Apesar de a Justiça considerá-lo esclarecido, o caso ainda é misterioso porque a prova material e circunstancial de que a polícia dispõe é frágil.
Trata-se de uma confissão gravada em fita de vídeo, feita por agentes do serviço reservado da polícia paranaense, o chamado "Grupo Águia".
A confissão foi feita por Celine e Beatriz Abagge. Elas teriam dito na fita que haviam encomendado a morte de Evandro para obter "fortuna e justiça" para a família.
Depois, sustentaram em juízo que teriam sido torturadas e sofrido ameças de estupro para confessar o crime. A PM do Paraná negou a versão das duas mulheres.

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