São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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O programa que mudou o Brasil - 4

LUÍS NASSIF

Em 1984, já estavam delineadas no BNDES as idéias que resultaram no programa de "integração competitiva" –base da abertura modernizante do governo Collor.
Na ocasião, o candidato a Presidência da República Tancredo Neves começava a preparar seu programa de governo. A Copag –órgão incumbido da tarefa– era chefiada pelo economista José Serra. Mas a parte de política industrial estava a cargo dos unicampistas, presos ao seu cenário de caos e rebelião das massas, e propondo distribuição de tíquetes de leite como política de governo.
O grupo do BNDES procurou Tancredo, acreditando dispor de uma visão alternativa. Dizia ser possível crescer e, ao mesmo tempo, pagar a dívida. A pedra de toque dessa mágica seria transformar em programa de governo as teses "integração competitiva" –termo provavelmente cunhado por Conceição Tavares, em um dos artigos em que desancou as idéias.
O candidato morreu sem se saber se comprara ou não as idéias e o grupo voltou novamente ao seu trabalho no banco.
Em 1985, Dilson Funaro assumiu a presidência do BNDES e levou consigo o economista Carlos Lessa. O banco dispunha de um Plano Estratégico, formulado ao longo dos debates de 1984, encampando os princípios discutidos. Lessa ficou contra os estudos, alegando ser planos da ditadura. Passou sua gestão praticando um misto de assistencialismo com financiamento de pequenas obras, mas mesmo assim, não teve condições políticas de esvaziar a bandeira interna dos "integracionistas".
Funaro virou ministro, mas não demonstrou maior inclinação pelos estudos. Na verdade, seguia um certo pensamento empresarial paulista, ainda muito impregnado do protecionismo à indústria nacional.
Logo depois veio o Plano Cruzado inaugurando a era dos pacotes. Nos anos seguintes, enquanto o futuro era forjado por engenheiros, com visão do mundo real, o debate econômico perdia-se numa discussão estéril sobre troca de moedas.
As idéias se impõem
Mesmo assim, na segunda revisão do Cenário Decenal do BNDES, preparada diretamente por Júlio Mourão, o principal teórico da "integração", trabalhava-se basicamente com dois cenários para a década. O primeiro, otimista, previa a vitória das teses da integração competitiva; o segundo, mais pessimista, trabalhava com a hipótese de fechamento da economia.
Em pleno 1987, com o país perdido pelos descaminhos de Sarney, a terceira revisão do Cenário já aceitava como vencedora a tese da "integração". O que poderia atrapalhar o novo modelo seria apenas a "inércia corporativista", em que cada agente econômico jogasse para si e Deus contra todos.
Restruturação
Concluía-se que só se conseguiria o cenário otimista se os agentes econômicos fossem convencidos da necessidade de coordenar e conversar sobre esforços conjuntos. A idéia das câmaras setoriais começou a surgir, de forma embrionária.
O Plano Estratégico do BNDES, de 1987 a 1990, tinha como objetivo básico preparar o banco para interferir na operacionalização de suas idéias.
Para tanto, foi fundamental a gestão do empresário Márcio Fortes. Assumindo a presidência, Fortes comprou integralmente as idéias e colocou em prática a estratégia do grupo.
O banco foi restruturado, privatizaram-se 14 empresas que consumiam energias dos técnicos, equacionou-se seu passivo e em fins de 1989 o banco estava pronto para voar.
Naquele ano, os técnicos da "integração" apresentaram suas propostas para os quatro candidatos a presidente. Usando um termo de engenharia, ofereciam uma "solução robusta" –isto é, que teria espaço como programa de governo independentemente da linha ideológica do vencedor das eleições.
A idéia foi comprada pela assessoria de Fernando Collor.

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