São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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PT quer Mercadante para o lugar de Bisol

CARLOS EDUARDO ALVES; AMÉRICO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Aloizio Mercadante (PT-SP) entrou na reunião de ontem dos partidos que apóiam Luiz Inácio Lula da Silva como o candidato a vice-presidente da chapa.
O nome de Mercadante foi proposto por Lula e a previsão do PT era de que seria acatado por todos os partidos coligados.
A defesa de Mercadante como substituto do senador José Paulo Bisol (PSB-RS) foi levada por Lula à reunião dos presidentes dos partidos que compõem a Frente Brasil Popular (PT, PSB, PC do B, PPS, PSTU, PV e PCB), prevista para começar às 20h de ontem em São Paulo.
A solução Mercadante surgiu depois de seguidas reuniões ontem entre o próprio deputado, Lula, Rui Falcão (presidente nacional do PT) e Luiz Eduardo Greenhalgh (um dos coordenadores da campanha de Lula).
Os petistas levaram o nome de Mercadante enquanto Lula tentava convencer o senador José Paulo Paulo Bisol (PSB-RS) a abrir mão da vaga.
Legalmente a substituição do vice só poderá ocorrer com a concordância do atual companheiro de Lula na chapa.
Até as 20h30, ainda havia o temor de que Bisol pudesse criar uma situação de constrangimento, já que a direção da frente não havia recebido documento com a renúncia formal do senador.
Outro obstáculo era o PSB: existe o compromisso político na frente de que a vaga era do partido de Bisol e, portanto, um petista só poderia ocupá-la se os socialistas concordassem com o fato.
Greenhalgh conversou com Miguel Arraes, presidente nacional do PSB, antes da reunião da noite. Na avaliação do dirigente petista, que foi transmitida a Lula, Arraes não exigiria que o substituto de Bisol pertencesse à sua legenda.
Se na reunião Arraes voltasse atrás, o PT poderia aceitar a indicação de Célio de Castro (PSB), vice-prefeito de Belo Horizonte.
Lula passou a tarde de ontem reunido com a cúpula petista na produtora de vídeo onde gravou os seus primeiros programas para o horário eleitoral gratuito de TV.
Mercadante é, entre os políticos do PT, um dos mais próximos ao candidato presidencial do partido. Lula expôs uma série de argumentos ao defender sua indicação.
Na análise do candidato, o deputado paulista não é passível de nenhuma acusação de envolvimento com atos de ética duvidosa, como ocorreu com Bisol.
O deputado tem ainda, segundo Lula, imagem marcada pela atuação na CPI do Orçamento.
Lula acha também que por ser economista Mercadante tem condições de dar à chapa o "brilho acadêmico" que faria o contraponto à sua origem mais simples.
Finalmente, Mercadante é tido no PT como um dos melhores debatedores da legenda, o que permitiria um bom desempenho nos embates de TV durante a campanha.
Para chegar a Mercadante, Lula teve que costurar um acordo político interno. O deputado pertence à corrente petista "Unidade na Luta" (antiga "Articulação") e sofre restrições das áreas mais à esquerda no espectro político do partido.
Greenhalgh (representante na direção dos grupos de extrema-esquerda do PT), e Falcão (líder da corrente de esquerda do partido) concordaram com a indicação para que não ocorresse o choque com o presidenciável.
Pesou também na atitude dos dois líderes o temor de que, caso houvesse o veto a Mercadante, fosse deflagrado um processo de luta interna que poderia ser fatal para a campanha que já vive um momento especialmente difícil.

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