São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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Elma Farias deu uma lição de vida ao país

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Se o cotidiano do país fornece, de fato, material para a trama da novela das oito, o autor global Gilberto Braga deve ter trabalhado dobrado na última semana, remanejando papéis de mocinho e bandido.
Ou não? Por cortesia de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, os jogadores da seleção não desembarcaram em Recife como heróis para serem transformados, horas depois, em um bando de muambeiros?
E o inverso não está ocorrendo com PC Farias e sua família? PC, troféu engaiolado da luta contra a corrupção, não desperta mais o rancor da época em que foi capturado.
Apesar de ele ter sido xingado de "ladrão" às portas do cemitério da Vila Alpina, quando veio a Sampa cremar a mulher morta, será que alguém ainda tem coragem de dizer que PC é o vilão número um do país?
Episódios como a cassação do deputado Ibsen Pinheiro e o escândalo envolvendo o candidato a vice do PT, José Bisol, nos ensinaram que é de um maniqueísmo digno de espectador de novela concentrar todos os ódios em um só personagem.
Ou não? Recentemente, Fernando Collor posou para fotos envergando a camisa da seleção brasileira e a ex-ministra Zélia surgiu orgulhosa ao lado do marido para mostrar a filha recém-nascida.
Enquanto isso, Elma Farias minguava sem arredar pé da porta do batalhão de polícia onde o marido é guardado em Brasília.
Ninguém me demove da idéia de que Elma Farias morreu de desgosto. Hipertensão ou não, ela tinha 44 anos. Não estava em idade de morrer. Elma definhou com dignidade ao lado do marido. Ficou com ele até o fim, para o que desse e viesse.
Apesar dos pesares, o casal PC Farias demonstrou ao país o que significa uma família unida. Não era só o dinheiro do butim a ligá-los.
O show que Elma deu diante das câmeras quando PC foi preso não deixou dúvidas: ela realmente amava aquele homem asqueroso.
Parece incrível que esses exemplos de fidelidade e união tenham partido justamente da família de um gatuno que tantas malversações fez com o seu e o meu dinheiro.
Elma nos deixou uma grande lição: é moleza crucificar um sujeito só porque ele é corrupto, feio e nordestino. Difícil, mesmo, é amá-lo.

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