São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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Estúdio usa rede para divulgar 'Rei Leão'

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Hollywood descobriu, afinal, o poder do computador. Na gigantesca blitz que acompanhou o lançamento de "Rei Leão", o estrondoso sucesso da Disney, os executivos do estúdio decidiram testar uma nova forma de marketing para promover o filme, distribuindo on line clipes do desenho animado.
A experiência está sendo feita através da Compuserve, uma rede que oferece notícias e serviços informatizados. Para acessá-la, o usuário paga uma assinatura mensal –cerca de US$ 10– e mais o tempo de conexão via modem.
Antes mesmo que "Rei Leão" chegasse aos cinemas, os assinantes da Compuserve puderam assistir a trechos do filme nas telas de seus computadores, depois de arquivar os clipes na memória.
No lado negativo, ficou claro que as redes atuais ainda são muito vagarosas para esse tipo de serviço. No caso de "Rei Leão", dependendo do poder do computador que se tem em casa, arquivar um clipe de três minutos leva mais de uma hora, salgando a conta do usuário no fim do mês.
No lado positivo, a experiência demonstra o potencial do computador para o futuro do entretenimento. Já se antevê o dia em que os estúdios poderão oferecer seus filmes diretamente a milhões de "infoespectadores". Mais do que isso; lembra aquela cena memorável do filme que marcou sua vida? Um dia, ao custo de alguns dólares, você poderá transferi-la do arquivo do estúdio para seu micro.
Hoje em dia 26 milhões de domicílios americanos são informatizados. Neles, há pelo menos 10 milhões de assinantes das redes on line. Um mercado nada desprezível, considerando que é um público de alto poder aquisitivo.
O ataque da Disney, com "Rei Leão", teve o objetivo de acertar as crianças através dos pais. Que pai coruja seria capaz de negar ao pimpolho o acesso a uma cena do Simba, o leãozinho que é a nova paixão da garotada?
Neste caso a Disney não descobriu a América. Na área do entretenimento, a experiência pioneira pertence à indústria da música, que há muito tempo vem testando o conceito de chegar aos consumidores on line.
Os usuários da Internet, por exemplo, podem acessar o Arquivo de Música Underground, que contém videoclipes, fotos e biografias de músicos e grupos novatos. Como a Internet não cobra pelo tempo de uso, "arquivar" músicas inteiras leva tempo mas não custa adicional.
No caso da música, o problema continua sendo o da qualidade. O som transmitido pelas redes é equivalente ao de uma rádio AM. Além disso, para reproduzi-lo o computador tem que ter placa e caixas de som.
As maiores gravadoras continuam reticentes quanto ao uso do sistema. É que qualquer usuário pode reproduzir quantas vezes quiser, em disquetes, a música que obtém on line, uma ameaça às vendas de discos e ao direito autoral dos artistas. Além disso, há um forte lobby dos varejistas, que antevêem o dia em que, sem sair de casa, o consumidor poderá gravar um disco inteiro no arquivo de seu computador.
Por enquanto, como no caso do "Rei Leão", o sistema deverá ser utilizado basicamente para criar a "bola de neve" promocional. A Geffen Records está oferecendo via Compuserve uma música inteira do último disco da banda Aerosmith. A música ocupa 4,3 Mbytes de memória e leva de 60 a 90 minutos para ser "descarregada".
Aqui, o pessoal do Aerosmith abriu mão dos direitos autorais e a Compuserve não cobra nada pelo tempo de conexão. A aposta é que depois de ouvir a música os infomaníacos vão correr às lojas para comprar o disco do grupo.

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