São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Universidades contra a fome

JOSÉ RUBENS REBELATTO

Acontece até o dia 30 deste mês, na Universidade de Brasília, a 1ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar.
Em maio, as principais universidades de São Paulo organizaram o Seminário de Segurança Alimentar e Cidadania, na Unicamp, onde surgiram propostas concretas de estudos que podem ajudar no trabalho de erradicação da fome, e ocorreram relatos e avaliação de ações já implementadas.
Essas ações adquiriram uma conotação de alta relevância, se for considerado que, durante um longo período, a universidade brasileira não teve suficiente nitidez de seus objetivos e, principalmente, de seu papel social.
Na década de 80, até pela necessidade de reagir frente a determinadas proposições governamentais, foram desenvolvidos debates e ações que colocaram em tela quais as contribuições da universidade à sociedade.
Hoje, parece existir um entendimento majoritário de que cabe à universidade produzir o conhecimento e torná-lo acessível ao maior número possível de pessoas. Mas, mesmo assim, fica a pergunta de qual conhecimento produzir.
A resposta usual é "todo tipo de conhecimento, pois é fundamental preservar-se o princípio da universalidade dos conhecimentos, que deve caracterizar qualquer instituição universitária". Corretíssimo, enquanto princípio, mas tal fato não impõe que isso tenha que ser feito sem uma sistematização. Ou seja, há que se ter uma hierarquização!
Um critério útil para tal hierarquização é produzir aquele conhecimento essencial para que os indivíduos e a sociedade sejam capazes de solucionar seus problemas emergenciais.
A partir da iniciativa do sociólogo Herbert de Souza, a universidade, pelas suas próprias características de fórum de debates, já permitiu descartar vários argumentos enganosos em relação ao assunto.
O próprio argumento de que "não é dando comida que se resolverá o problema da fome no Brasil" foi colocado em seu devido lugar. Ficou claro que é necessário abordar não somente as decorrências do problema, mas também, e principalmente, os fatores que o determinam.
No entanto, de maneira alguma isso pode significar o desprezo ou a ignorância das decorrências, enquanto não se possui o conhecimento e as ações necessárias para o controle daquilo que faz com que o problema ocorra.
Principalmente quando tais decorrências envolvem a perda de cidadania, da dignidade e, muitas vezes, da própria vida humana. Neste aspecto, especificamente, as universidades que tomaram essa iniciativa merecem a reverência daqueles que as observam.

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