São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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O programa que mudou o Brasil - 6

LUÍS NASSIF

Ainda no Bolo de Noiva, a falta de experiência operacional acabou afastando o grupo da PUC-RJ da condução dos trabalhos de abertura do governo Collor.
Quinze dias depois de iniciado o governo, outro puquiano –o economista Marcelo Abreu– pediu demissão da Secretaria Nacional de Economia por não ter conseguido nomear nenhum de seus subordinados.
João Maia assumiu a secretaria e indicou Luiz Paulo Velloso para diretor do Departamento de Indústria e Comércio. Velloso levou Antônio Maciel como seu vice. Os "integracionistas" chegavam ao poder.
Com cem dias de governo, foi apresentado o plano de abertura da economia, o "Diretrizes Gerais da Política Econômica e de Comércio Exterior", preparado por eles.
O anúncio foi no dia 26 de junho de 1990 –uma data a ser registrada nos futuros livros de história. Era um trabalho de engenheiros, com data, prazos e cronogramas.
Anunciava-se em 90 dias a nova Lei de Informática, em 180 dias, o Plano Brasileiro de Qualidade e Produtividade, em quatro anos, a redução ano a ano das tarifas de importação.
O anúncio do plano garantiu 11 dias de cobertura intensiva nos jornais e ajudou a mudar as expectativas em relação ao governo, num momento em que a inflação começava a voltar.
Mudando de lugar
Teve início, então, o trabalho de conquistar a opinião pública. O primeiro grande momento foi em um programa "Roda Viva", da TV Cultura de São Paulo, onde o entrevistado foi Velloso Lucas.
Nos dias anteriores, Maciel havia feito uma prévia com ele, tentando checar todas as perguntas que seriam feitas. Só não tinham como responder à seguinte provocação: "É uma piada achar que a indústria automobilística vai investir com a abertura do mercado", formulada por um dos entrevistadores. A resposta viria quatrio anos depois.
Em outubro, João Maia demitiu-se da Secretaria Nacional de Economia, para assumir cargo na Sade Engenharia –empresa beneficiada por Zélia. Em seu lugar assumiu Edgard Pereira, da Unicamp. Antônio Maciel foi indicado para seu sub, ampliando a margem de manobra dos "integracionistas".
Com a queda de Zélia, a troca de governo trouxe dois elementos valiosos. Numa ponta, o novo ministro da Economia Marcílio Marques Moreira, partidário de soluções gradativas para as questões econômicas.
Do outro, a nova secretária Nacional de Economia, Dorothéa Werneck, que manteve Maciel como sub, trouxe para o programa a classe trabalhadora e uma exposição na mídia que os "integracionistas", não-vinculados a grupos políticos, jamais tiveram.
Visão fiscalista
O coroamento desse processo foi com a câmara setorial da indústria automobilística, em reunião em que a equipe econômica precisou decidir sobre a redução dos tributos. Havia grande resistência interna, de pessoas ainda impregnadas da visão fiscalista da economia.
A questão foi resolvida quando Dorothéa apresentou trabalho preparado por Maciel que, segundo os presentes, era uma obra-prima de racionalidade. Listava as reivindicações de cada setor envolvido –trabalhadores, montadores, fornecedores e governo–, demonstrava que todas eram justas em si mas, somadas, produziam um todo ilógico. E conclamava a uma racionalização de esforços em torno de um objetivo mais amplo.
Terminada a exposição, o presidente do Banco Central, Francisco Gros, provavelmente o mais influente homem da equipe de Marcílio, declarou-se convencido. A redução foi aprovada, consagrando a câmara setorial.

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