São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Nova geração do jazz chega ao Brasil

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No último festival de Montreux, duas semanas atrás, eles provaram que o futuro do jazz está em boas mãos. Rotulados de "young lions" (jovens leões), é neles que gravadoras e produtores apostam hoje boa parte dos investimentos no mercado do jazz.
Apesar de seus evidentes méritos musicais, o caso mais bem-sucedido desse "hype" jazzístico é o saxofonista americano Joshua Redman, 24, atração escalada para o próximo Free Jazz Festival (em outubro, no Rio e em São Paulo).
Dois anos atrás, o filho do saxofonista Dewey Redman não era muito mais que um principiante desconhecido. Elogiado por veteranos como Charlie Haden e Pat Metheny, depois de gravar o primeiro disco (em 93, pela Warner) ele tem frequentado o topo das paradas de jazz, capas de revistas especializadas e todos os grandes festivais do gênero.
"Sei que de algum modo fui beneficiado por esse 'hype', que nem sempre se baseia no talento musical", disse Joshua à Folha, em Montreux. "Tenho consciência de que há grandes músicos por aí sem as mesmas oportunidades que eu tenho, mas isso não é razão para desistir. Procuro avançar o mais rápido que eu posso."
Pacote de feras
Quatro "ferinhas" da nova geração do jazz chegam ao mercado brasileiro em meados de agosto. Em pacote do selo Verve/Polygram, o trompetista Roy Hargrove e os pianistas Peter Delano, Rodney Kendrick e Django Bates terão seus primeiros álbuns lançados oficialmente no país.
Ex-discípulo de Wynton Marsalis (até recentemente o modelo seguido pela maior parte dos músicos da nova geração), o precoce Roy Hargrove chega aos 24 anos com cinco álbuns individuais e muitos elogios da crítica.
"O mais importante para mim é me aprimorar como músico. Não estou preocupado com esse tipo de badalação", disse Hargrove, após sua apresentação no festival de Montreux.
Em seu novo álbum "When We Were One", o talentoso trompetista tem como convidados cinco astros norte-americanos do sax tenor: Joe Henderson, Branford Marsalis, Joshua Redman, Johnny Griffin e Stanley Turrentine.
"Reunir todos esses grandes músicos em um mesmo disco, depois de ter tocado com cada um deles, foi uma experiência definitiva", resume o texano de Dallas, que se formou no influente Berklee College of Music (em Boston) e começou a chamar atenção acompanhando os jazzistas Sonny Rollins e Jackie McLean.
Pianista precoce
Mais precoce ainda é o pianista Peter Delano, 17, que acaba de lançar "Bite of the Apple", seu segundo álbum pela Verve/Polygram, com participações dos veteranos Gary Bartz e Eddie Gomez.
"Especialmente no mundo do jazz, não importa muito qual é a sua idade, sua origem racial ou bagagem cultural, desde que você domine a linguagem musical", diz Peter, lembrando que a pouca idade jamais chegou a ser um problema em sua carreira.
Articulado como raros garotos de sua geração, o pianista nova-iorquino também cresceu ouvindo pop e hip hop, mas encontrou algo especial no jazz.
"O problema é que as pessoas da minha idade vêem o jazz como algo estereotipado. Pensam logo no "swing", o jazz dos anos 40. Não percebem que o jazz tem inúmeras formas e estilos", reclama.
Citando mestres como o saxofonista John Coltrane ou o trompetista Miles Davis, Peter diz que a busca do estilo próprio extrapola o instrumento. "Desde cedo compreendi que não seria ouvindo e imitando outros pianistas que eu desenvolveria meu estilo pessoal."

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