São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994 |
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Caetano lembra infância em CD latino
LUÍS ANTÔNIO GIRON
O produto foi pensado pela Polygram para abrir o mercado latino à música de Caetano. Está sendo lançado também no México, Argentina, Chile e Venezuela. Mas o músico soube se desviar do alvo e retomar um aspecto pouco sabido de sua vida artística: o contato com as canções românticas latinas nos anos 40 e 50, quando morava em Santo Amaro. Assim, o 26º disco de carreira (inclusive os títulos em parceria) e 37º CD (contando-se as coletâneas) é um trabalho de lembrança da infância e adolescência. Mas a lembrança é marcada pelo distanciamento crítico. Caetano se plasma outra no método do cantor João Gilberto. Elege pedras de toque que formaram seu primeiro gosto musical e as transfunde em estilo particular. As quinze faixas do CD nada guardam de reprise ou estudo do som latino (essa utopia da alteridade tão forte para os brasileiros como o oriente é para o ocidente) dos anos 40. São recrias firmadas no critério autobiográfico. Os arranjos, assinados pelo violoncelista Jaques Morelenbaum, evocam sem repetir a atmosfera das orquestras latinas dos anos de ouro. O tratamento das cordas e dos sopros é mais erudito. O release escrito por Caetano (ele se encarrega tão brilhantemente do serviço que o texto deveria ser juntados ao livreto do CD) aponta os motivos da inclusão desta ou daquela música. Diz ter conhecido a maior parte delas "no repertório das orquestras de baile, nas tardes de piano de minha irmã Nicinha, no serviço de alto-falante" e na novela "O Direito de Nascer". "Rumba Azul" (Armando Orefiche), de 1942, abre o disco num clima carmen-mirandiano. Seguem-se o bolero "Maria Bonita" (Augustín Lara), de 1942, a canção "Contigo en la Distancia" (César de La Luz), de 1952, e a guarânia "Recuerdos de Ypacaraí", de 1953. A faixa-título é uma valsa de 1956 do compositor peruano Chabuca Granda. Mas, como no disco todo, o estranhamento se instala. O arranjo de cordas se associa ao canto sem vibrato. Algumas composições integram experiências recentes, como 'ën Vestido y un Amor", feita pelo argentino Fito Paez em 1992. A exemplo de João, Caetano lavra a latinidade até chegar à bossa-nova. Isso ganha a máximo intensidade na canção "Vuelvo al Sur" (Piazzolla-Fernando Solanas), de 1988. O cantor condensa água e óleo: a batida bossa-nova e a melodia tangada. É uma pedra de toque inaugural. Disco: Fina Estampa Lançamento: Polygram Quanto: R$ 15,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Blindex; Vacina; Canário; Lupa Próximo Texto: 'O Beijo 2348/72' faz rir da burocracia Índice |
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