São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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BC liquida mais quatro empresas

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central decretou ontem a liquidação de mais quatro instituições financeiras.
Foram três empresas do grupo Hércules (banco, corretora e distribuidora) e a administradora de consórcio Exacta.
Somente em julho, o BC já liquidou dez instituições financeiras. É um número alto, já que durante o primeiro semestre deste ano apenas sete instituições foram liquidadas –todas administradoras de consórcios.
O governo, porém, nega que a série de liquidações foi efeito do Plano Real. "São casos isolados, bancos que já tinham problemas antigos", disse o diretor de fiscalização do BC, Édson Sabino.
Ontem o BC começou a operar uma nova linha de assistência financeira aos bancos, fixando os juros dos empréstimos em 6% ao ano acima das taxas médias dos títulos públicos.
São os menores juros já praticados pelo BC em operações normais de socorro a bancos.
Até então, os empréstimos do BC, chamados redesconto, eram cobrados a juros de 10% a 12% acima das taxas dos títulos públicos.
Mesmo as taxas do redesconto já sofreram redução este mês. Elas eram de 21%, 23% e 25% ao ano, dependendo do volume da operação, até serem reduzidas na semana retrasada.
Desde a criação do real, diversos bancos de pequeno porte, corretoras e distribuidoras vêm enfrentando dificuldades para obter dinheiro –fenômeno chamado de "crise de liquidez" pelo mercado.
Segundo técnicos do BC, esta crise ocorre porque estes bancos se alimentava do lucro inflacionário, e, por isto, têm problemas em operar num cenário de estabilidade.
Esta situação é percebida pelos bancos de maior porte, que passam a evitar operações com as instituições menores. Isto agrava o problema, segundo avaliação do BC.
Os bancos argumentam que a liquidez do mercado foi comprometida pelo arrocho monetário promovido pelo BC –que, em julho, determinou o recolhimento de todos os recursos adicionais recebidos pelos bancos em contas correntes.
A primeira empresa a ser liquidada em julho foi a distribuidora CR 500, do Rio. Depois foram quatro empresas do grupo paulista Garavelo (banco, consórcio, distribuidora e corretora) e o consórcio brasiliense Sakakura.
Além disso, o banco Sterling, do Rio, enfrentou crise de liquidez e negociou com o BC sua saída do mercado, segundo Sabino.
Hércules
Segundo informou ontem Sabino, o banco Hércules estava há três meses sem conseguir saldar seu débito no redesconto –estimado em R$ 5 milhões.
Era sediado em Belo Horizonte e possuía seis agências, incluindo unidades em São Paulo e Rio. A última operação do banco, realizada anteontem, foi a venda de títulos no valor de R$ 400 mil.
"Era um banco pequeno e a liquidação terá efeitos mínimos para o mercado", disse Sabino. Segundo o diretor, o banco seria liquidado mesmo em um cenário de inflação alta.
O consórcio Exacta, sediado em São Paulo, tinha um rombo de US$ 2 milhões, e pendência de entrega de 134 veículos. A empresa emitiu cheques sem fundos e sonegou informações ao BC.
Com a liquidação do grupo Hércules, ficam indisponíveis os bens dos administradores Tasso Assunção Costa, Vera Lúcia de Araújo Assunção Costa (sua mulher), Cláudio Assunção Costa (filho do casal) e Cláudio de Lima Naves.
Pelo consórcio Exacta, a indisponibilidade de bens recai sobre Walkiria Fátima Cauduro Figueiredo e Jean Louis de Lacerda Soares.

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