São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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Números e critérios

SÍLVIO LANCELLOTTI

Quase 15 dias depois de encerrado o Mundial, ainda sobram rescaldos da competição, fatos e detalhes estatísticos que praticamente ninguém analisou. Eu e meu assistente Eduardo Lancellotti, também jornalista, o cartesiano de plantão em minha casa, permanecemos uma semana debruçados nos 50kg de papéis oficiais da Fifa que eu trouxe dos EUA –e descobrimos tolices incríveis nos processos de computação da Copa.
A mais ostensiva delas está na classificação final do certame de 94 e na sua transposição ao ranking de todos os torneios já realizados. Pela primeira vez na história do Mundial, a Fifa concedeu três pontos por vitória na fase inicial de qualificação. O ranking do passado, no entanto, foi todo baseado no critério clássico dos dois pontos por sucesso. E a empresa EDS, que cuidou da computação nos EUA, não compatibilizou os dois sistemas, criando imperdoáveis distorções.
Pelo método antigo, ficaria com a Espanha e não com a Holanda a 7ª colocação em 94. Da mesma forma, ficaria com o México e não com a Arábia Saudita a 12ª posição. Pior, ao calcular o ranking de antologia, a EDS sumariamente somou os pontos de 94 àqueles das edições anteriores da competição -ou seja, 14 versões com dois pontos por vitória e uma com três pontos.
Exemplifico através do Brasil. Das suas 73 partidas em toda a história do Mundial, o Brasil ganhou 49 e empatou 13. Pelo critério tradicional, portanto, deveria ostentar um global de 111 pontos. O sistema da EDS, todavia, lhe concede 116. Ora, adotasse a Fifa, de vez, o método dos três pontos por vitória, ele deveria, obviamente, se estender ao universo integral da Copa -e o Brasil apareceria no ranking com 160 pontos.
Na confusão criada pela EDS, equivocadamente a Suécia aparece na sétima colocação, à frente da Rússia e do Uruguai. A Romênia, com a 19ª posição, erradamente surge à frente do Chile. A Bulgária, 22ª, desponta adiante da Escócia. A Arábia Saudita, que só disputou o torneio dos três pontos em 94, de um salto engole mais de 20 seleções. Com um único triunfo em 94 a Noruega come outras 20, inclusive a Tunísia, a Coréia do Norte, a Costa Rica e a Turquia, que tiveram o azar de ganhar um jogo quando a façanha só valia dois pontos. Grotesco, para dizer o menos. Que a Fifa se manifeste, por favor, e padronize imediatamente o seu critério.

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