São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994 |
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Diz-que-não-disse "E a palavra, uma vez lançada, voa irrevogável". Horácio Decididamente, o poder –e mesmo a sua antecâmara– parece fazer mal às pessoas. Elas acabam desenvolvendo certos hábitos estranhos à sua própria imagem. É o que ocorre com o candidato à Presidência da República Fernando Henrique Cardoso, que vem por vezes negando suas declarações textuais, mesmo que feitas apenas algumas horas antes e gravadas. É evidente que um político deve evitar as gafes a todo custo. É claro que não fica bem censurar publicamente a conduta moral do companheiro de chapa. É óbvio que não rende votos usar, para referir-se a negros, de um vocabulário que pode ser considerado preconceituoso. Tampouco convém a alguém que postula o cargo máximo do país sugerir que boas intenções não são essenciais. E Fernando Henrique, como todo mortal, sujeito a erros, deslizes e palavras impensadas, cometeu essas três gafes. E as renegou, todas as três. No lugar de assumir as consequências de seus lapsos, que poderiam ser perfeitamente desculpados, preferiu a saída fácil de simplesmente desdizer o que declarara, como se, entre o desejo e a realidade, prevalecesse o primeiro. Trata-se de uma atitude mais lamentável por ter Fernando Henrique a imagem de um político diferente do convencional. De inúmeros outros já se espera que prometam e não cumpram, que digam e depois neguem. Dele, ao contrário, costuma-se tomar a palavra dita como definitiva, nos grandes ou nos pequenos assuntos. E declarações, intenções e comentários dos candidatos, ainda que reconhecidamente voláteis, permanecem um importante elemento no processo de decisão de cada eleitor. Por mais que FHC insista, não se pode esquecer tudo o que FHC escreveu. Ou disse. Texto Anterior: Dois países Próximo Texto: Petição ao presidente Índice |
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