São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Modelo de FHC, JK criou era da inflação

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Modelo de FHC, JKcriou era da inflação
Salários também foram contidos
O símbolo histórico que Fernando Henrique Cardoso escolheu para sua candidatura –os anos JK– não foi exatamente o que parece ter sido.
A imagem que o presidente Juscelino Kubitschek (1956-61) deixou na memória popular e no marketing foi apenas de desenvolvimento e modernização extraordinários.
Mas, enquanto comprimia "50 anos em 5", o período Juscelino também produzia inflação recorde na história da República (cerca de 40% contra picos antes nunca maiores do que 30%).
Os anos JK contiveram salários e criaram um modelo concentrador de renda que dura até hoje.
Foram marcados também por taxas de crescimento da economia superadas apenas no "milagre" dos 70.
Para tanto, emitiu moeda demais e endividou externamente o país, que não foi preparado para gerar divisas para pagar a conta e entrou numa crise que se estendeu de 60 a 67.
Mesmo o Plano de Metas e parte da política econômica, que basearam o ciclo de desenvolvimento que coordenou, eram iniciativas anteriores.
Politicamente, JK conseguiu contemporizar com os militares –assumiu o governo em estado de sítio e sob ameaça de golpe. O Partido Comunista continuava ilegal.
Na verdade, a emissão de moeda para financiar gastos do governo e o endividamento externo de JK não eram apenas perdularismo irresponsável, mas uma política de financiamento da industrialização.
Juscelino Kubitschek tinha cinco metas (como FHC): energia, transportes, indústrias básicas (siderurgia e máquinas, por exemplo), educação e alimentação.
O investimento pesado, no entanto, ficou nos três primeiros setores.
Brasília
A "meta-síntese" era a construção de Brasília, o que, na opinião de Celso Furtado, causou desequilíbrios naquilo que ele chamou de "primeira política ordenada de industrialização" do país. Isto é, gastos dispensáveis.
Furtado chefiou, entre 1953 e 1955, um grupo de economistas que elaborou um plano de metas para o desenvolvimento de todos os setores estratégicos da economia brasileira, que foi aproveitado por JK.
Em 54, o ministro da Fazenda, Eugênio Gudin, facilitou a entrada de capital estrangeiro, norma utilizada por JK para criar a indústria automobilística, siderúrgica e naval.
Houve uma explosão da indústria de bens de consumo duráveis (para a classe média), também estimulada por preços subsidiados das estatais e contenção salarial para operários.
Entre 55 e 62, o salário real médio na indústria de transformação cresceu 12,3%; a produtividade, 72,8%.
O endividamento externo e a emissão de moeda sustentaram o desenvolvimento da indústria de base, à base de crescimento da inflação.
Não houve medidas fiscais –mais impostos para os favorecidos pelo processo de industrialização– para tapar o déficit do governo.

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