São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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País desperdiça recursos para educação

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil não gasta tão pouco em educação. Gasta mal e muitas vezes nem sabe como. A conclusão, que rebate muitos dos clichês sobre o assunto, não é de um pedagogo, mas de um físico, Sérgio Costa Ribeiro, pesquisador-titular do Laboratório Nacional de Computação Científica.
No relatório "A Educação e a Inserção do Brasil na Modernidade", Ribeiro procura reavaliar os principais indicadores sobre a educação no país, como evasão escolar e investimento na área.
As projeões feitas por Ribeiro mostram que o país investe nos 22 milhões de alunos de 1º grau os mesmos recursos para sustentar 300 mil alunos das universidades federais.
O pesquisador concluiu também que muitas metodologias aplicadas são arcaicas e erradas, como a empregada para medir as taxas de evasão e repetência, o que provoca distorções gigantescas.
Os erros aumentam as proporções dos péssimos indicadores sobre educação no país e dificultam o planejamento para resolver os problemas.
Eficiência
O relatório de Costa mostra que o investimento em educação, levando em conta o PIB per capita, atualmente não é menor no Brasil do que em países como os tigres asiáticos Coréia e Taiwan, e Hungria. Na Coréia, no entanto, 95% dos estudantes completam o segundo grau.
No começo da década, uma "olimpíada" para avaliar a proficiência dos estudantes de 20 país entre 9 e 13 anos em matemática, o Brasil ficou em 19º lugar, à frente apenas de Moçambique.
Os estudantes brasileiros avaliados eram de Fortaleza (CE) e São Paulo. Em ciências, os 5% melhores alunos paulistanos obtiveram notas semelhantes à média da Coréia. A média em Fortaleza foi pior do que o desempenho dos 10% piores alunos da Coréia, Taiwan, Suíça e Hungria.
Custos
Com relação ao aproveitamento dos recursos dirigidos, as projeções de Ribeiro mostram indicadores ainda piores. Segundo o relatório, menos da metade da despesa em 1º grau chega à sala de aula (pagamento de professores e equipamento).
Ribeiro mostra também que gasta-se a mesma quantia com salários nas instituições federais de ensino superior (300 mil alunos) e com o custo direto de financiamento de toda a educação de 1º grau no Brasil, que atende 22 milhões de alunos.
O pesquisador notou também, em sua projeção de dados oficiais e estimativas, que cerca de um terço dos recursos para a educação desaparece nas instâncias burocráticas da administração do ensino.

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