São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Japão educa 99,9% das crianças

ANDRÉA FORNES
EDITORA DE EXTERIOR E CIÊNCIA

A palavra-chave do sistema educacional do Japão é obrigatoriedade. Parte das medidas de reconstrução efetuada após a 2ª Guerra Mundial, o país adotou como modelo a educação norte-americana.
O aluno deve cumprir seis anos de escola primária e três anos de escola secundária inferior (ginásio). Os três anos seguintes de escola secundária superior (colegial) e os quatro anos de universidade são opcionais.
Com o ensino compulsório, 99,9% das crianças japonesas com idade entre 6 e 15 anos estão matriculadas em escolas públicas ou particulares para cursar os nove anos iniciais de ensino.
O Japão conseguiu adotar um sistema eficiente, que atendia a demanda crescente do pós-Guerra. Em termos quantitativos, a educação é um sucesso. Mas a qualidade do ensino, assim como em outros países da Ásia, é questionável.
Memorização
O aprendizado se baseia na memorização: os estudantes decoram em vez de entender a lição.
O resultado desse sistema é a falta de criatividade que toma conta das áreas industrial, científica e cultural do Japão. Não é à toa que os japoneses levam a fama de ser criadores frustrados e copiadores bem-sucedidos.
Yasuo Nannichi, vice-presidente da Universidade de Tsukuba, reconhece a dificuldade de se levar adiante o projeto do campus, localizado a noroeste de Tóquio.
"Eles tentaram abrir uma nova universidade nesta sociedade conservadora. Foi uma idéia revolucionária, mas que não deu certo", diz Nannichi.
Os japoneses acertaram no conceito, uma cópia do que há de melhor no sistema americano, mas o problema é que não foi possível implantá-lo em seu próprio país.
Suicídios
Outro aspecto negativo da educação nipônica é a competitividade, responsável por levar muitos estudantes ao suicídio.
Para se dar bem na vida, o que quer dizer basicamente ser aceito por uma das grandes companhias, o estudante deve ter cursado uma universidade renomada.
Só entra em uma dessas universidades quem tiver feito o colegial em uma escola renomada. Só entra em dessas escolas quem tiver feito o ginásio em uma escola renomada. E assim por diante até o jardim da infância, quando a criança começa a ser pressionada.
Como a educação é obrigatória, a concorrência acaba sendo enorme uma vez que a maioria dos japoneses passou pela escola.
Como escolher o melhor entre eles? Basta olhar para o desempenho escolar, medido através de testes. Assim, a criança se mata de estudar para obter as melhores marcas.
O número de estudantes que abandonam a escola no nível secundário superior está crescendo.
Segundo os dados do Monbusho (Ministério da Educação), 2,1% dos japoneses largaram os estudos antes de se formar em 1991.
O governo gasta cerca de 12% de seu orçamento com educação, contra os 13,6% dos Estados Unidos. Esse número equivale a 583.893 ienes por estudante no nível secundário e 1.937.946 ienes no nível superior.
Os dados são referentes ao ano de 1988, utilizados como referência em relatório sobre educação do ano passado.
Além do ensino, a opção conservadora se revela na obrigatoriedade dos uniformes, com saias abaixo dos joelhos para as mulheres e traje de inspiração militar para os homens.
O cabelo com permanente (razão para expulsar uma aluna da escola) só agora começa a ser admitido no Japão.

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