| São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
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CARANGUEJO COM CÉREBRO Por Sérgio Dávila SÉRGIO DÁVILA
Chico Sciense encontrou o caranguejo há 15 anos. Imagine a cena: o menino de classe baixa vai até o mangue que tem no fim da sua rua, no Rio Doce, Recife. O bairro é rico em folclore, como o maracatu e a embolada. Lá, ele pesca caranguejo á unha, amarra alguns a uma corda e vende para vizinhos. Com o dinheiro, engordado por uma raquítica mesada, frequenta bailes funks no fim-de-semana. Quinze anos depois, Chico Sciense, caranguejo, Rio Doce e bailes funks viram uma coisa só: o mangue-beat, a melhor novidade do cenário pop atual no Brasil (e isso não é papo-aranha). É um ritmo novo, urdido pelo músico recifense de 28 anos, que mistura sons antigos e recentes numa alquimia dançante. É mais que ritmo novo: é estética, atitude. Surgiu em 1991 em Recife e chegou no começo deste ano ao Sul Maravilha. É a banda Chico Sciense & Nação Zumbi, é a musica "Praiera", estourada nas FMs e na novela global "Tropicaliente", é o disco "Da Lama ao Caos", da multi Sony Music, 20 mil cópias vendidas em três meses. Em 1991, a cena musical do Recife era indigente. O ultimo nome de sucesso, que conseguiria extrapolar o fenômeno regional, e isso lá nos anos 70, era Alceu Valença. Em 1991, Francisco de Assis França (o nome de batismo de Sciense) trabalhava como técnico de Recursos Humanos na empresa estatal de informática da cidade, a Emprel. Junto com seus amigos - músicos, artistas -, comia canguejo e bebia cerveja na beira da praia. E pensava numa maneira de "ganhar o mundo". Francisco de Assis estava mal. " Ai, o mangue deu a resposta", lembra Chico Sciense. Detalhe: a nordestina Recife, capital de Pernambuco, é uma cidade estuária, toda construida sobre manguezais. Vira-se uma esquina e dá-se com um mangue - um ecosistema muito rico, que apresenta uma enorme variação de espécies e funciona como um filltro, do rio para o mar. Nele, reina o caranguejo. Texto Anterior: Não é comigo Próximo Texto: CARANGUEJO À CHICO SCIENCE Índice |
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