São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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Cresce mercado paralelo de celular

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A demora de oito meses para obtenção de um telefone celular na Telesp, com uma fila de espera de 250 mil pessoas, fez surgir um grande comércio paralelo de linhas em São Paulo.
Segundo informações do mercado, as transações são feitas por mais de cem corretores autônomos que também atuam no comércio paralelo de telefones comuns.
Os telefones celulares para pronta entrega são vendidos entre R$ 1.300,00 a R$ 2.000,00, de acordo com a marca do aparelho, mais a taxa de habilitação na Telesp, que é de R$ 200,00.
A maior parte das vendas não é registrada na Telesp (Telecomunicações de São Paulo). O comprador recebe o aparelho em nome de terceiros, para não pagar a alta taxa de transferência cobrada pela estatal (R$ 809,12).
Um celular Motorola modelo PT550, em funcionamento, custa cerca de RS$ 1.600 (fora a taxa de transferência). É mais que o dobro do que o usuário pagaria se fosse enfrentar a fila da Telesp: R$ 480,00 pelo aparelho e R$ 200,00 pela habilitação.
Segundo o gerente de telefonia celular da Telesp, Gilson Rondinelli, a estatal estabeleceu uma taxa alta de transferência para afastar o especulador da fila.
Como ela não consegue atender o mercado, a medida só aumentou os riscos para os que buscam uma solução no comércio paralelo.
Os corretores se abastecem de linhas comprando as cartas de habilitação dos que enfrentaram a fila e foram convocados pela Telesp. A estatal só emite uma carta por pessoa e controla pelo CPF (Cadastro de Pessoas Físicas).
As cartas de habilitação valem de R$ 500,00 a R$ 600,00 no paralelo. O titular da carta assina um contrato de transferência em branco e uma procuração dando poderes ao corretor para registrar o telefone e repassá-lo a terceiros.
O que parece ser um bom negócio –as cartas são emitidas gratuitamente pela Telesp– pode se transformar em fonte de prejuízos.
Se a venda da linha não for registrada na Telesp, o titular da carta continuará legalmente responsável pelas contas. "Se houver atraso, nós vamos cobrar de quem figura como responsável em nosso cadastro", diz Rondinelli.
As tarifas dos telefones celulares são altas. A chamada local custa R$ 0,28 por minuto. Se o usuário falar 15 minutos por dia, sem interurbanos ou DDI, a conta no final do mês será de R$ 126,00.
No telefone comum, o pulso da ligação local custa R$ 0,03, dá direito a 4 minutos de conversa e o usuário só paga as ligações que fizer. No celular são cobradas também igações recebidas.
Os corretores exigem, dos compradores, um termo de responsabilidade pelo pagamento das contas. Mas este contrato, particular, não é reconhecido pela Telesp.
O comprador também corre riscos. No momento da compra, ele também assina um contrato em branco e, se atrasar o pagamento das contas, o corretor pode revender o telefone e ele perde o que investiu na compra da linha.
Há um segundo risco para o comprador: se o vendedor for inescrupuloso, poderá alegar que o aparelho foi roubado, dar queixa à polícia e, de acordo com a Telesp, cancelar o telefone.
O único elo deste mercado que não corre riscos é o intermediário que, em média, apura um lucro de R$ 500,00 a cada transação.
A Folha entrou em contato com 11 escritórios que publicam anúncios classificados em São Paulo para compra de cartas de habilitação e venda de linhas.
A Bolsa de Telefones foi a única a informar que só faz negócio com transferência na Telesp. Neste caso, segundo a estatal, não há risco para os envolvidos. Os demais só ofereceram linha para pronta entrega sem transferência de titular.

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