São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Horário eleitoral será mais chato que nunca

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Política é para poucos e, pouco a pouco, perde sua alma. Quem conhece a Itália, sua história recente e o alto grau de esclarecimento do seu povo, tomou um susto com a vitória do empresário e agora primeiro-ministro Berlusconi, um misto de Vicente Mateus e Roberto Marinho, nas últimas eleições. E o que vem por aí?
Os Estados Unidos já tiveram Ronald Reagan, ator de filmes B, dedo-duro do sindicato dos atores da Califórnia, que foi surpreendentemente eleito presidente. Até aí poderia se dizer que o americano é um povo que se entope de horas diárias de televisão, e que se deixou levar pela malícia, voz postada, boa postura, desempenho e desembaraço de um ator frente às câmeras.
O Brasil teve seu Collor, o jovem Indiana que, com muita bufunfa, boa assessoria de marketing, bons slogans, boa aparência e um discurso messiânico, tirou a eleição da mão de raposas experientes: Ulysses, Brizola e Lula. Mas Brasil é Brasil, Terceiro Mundo, cuja porcentagem de televisões nos lares supera a de geladeiras.
Poderia se dizer que Collor só seria possível num país com pouca tradição política. Mas Berlusconi na Itália? Até recentemente, o país se dividia apaixonadamente entre comunistas, socialistas e católicos e derrubava um governo atrás do outro quando havia qualquer indício de incompetência ou corrupção. Mas o homem da televisão fundou um partido, fez seu time, o Milan, ser campeão e faturou a eleição. Administra o país como administra uma de suas empresas. A política perde sua origem e vira negócio.
Em comum nos três casos, a desilusão com a chamada "classe política". Talvez pensando nisso, uma nova lei dita as normas do novo horário eleitoral gratuito, que estréia amanhã. Nada de efeitos, edições, externas. TV como era a TV da década de 50. A lei foi votada pela própria classe política, classe que procura desesperadamente garantir sua sobrevivência frente a muitos bicões do showbiz. Certamente, a tentativa vai surtir efeito contrário: ao invés de fazer da política algo sedutor e eletrizante, como um show de auditório, trará mais tédio e desencanto.
Infelizmente, muitos políticos não aprendem nas derrotas e cercam-se de armadilhas para perpetuarem-se no poder. Ou mudam os políticos, ou Silvio Santos vem aí, carregando suas macacas de auditório, lá, lá, lá...

Texto Anterior: ONTEM E HOJE
Próximo Texto: QUEM GOSTA DE ÁGUA SALGADA ; OS PERSONAGENS X-MEN ; JOVENS ARTISTAS ; A BANDA SECOND COME ; VELHOS ASTROS DA MTV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.