São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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Mãe hippie acha sua geração 'muito boba'

DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine a cena: a mãe está pronta para sair com uma roupa supercolorida. As filhas ficam do lado dizendo que aquela roupa é maluca e que é melhor a mãe arrumar algo "apresentável".
É assim que as coisas acontecem na casa de Elisa, 40, Estrela, 19, e Brisa, 21. Elisa era (ainda é um pouco) uma hippie assumida nos anos 70. Suas filhas são o oposto da mãe e assumem ser "meio caretas, sim".
Estrela diz admirar a geração da mãe por eles terem espírito de coletividade. Sua mãe discorda: "Acho que a minha geração era muito boba. Eles são mais adaptados à realidade."
As duas tomam conta da mãe abertamente. "Quando a gente era criança ela ia às reuniões do colégio e ficava fazendo discursos de esquerda. Aí nós a proibimos de frequentar as reuniões."
A mãe se justifica: "Eu não queria que elas fossem para o colégio. Por mim fariam o supletivo na hora em que quisessem."
Para desespero de Elisa, as filhas quiseram ir para o colégio e ainda se saíram ótimas alunas.
Elisa diz que acabou se acostumando com isso, e que aprende muito com as filhas. "Elas estão me ensinando a me adaptar ao mundo", garante Elisa.
Essa adaptação quer dizer usar roupas de marca e não sair por aí brigando com as pessoas. "Eu tinha mania de discutir com todo mundo. Elas me ensinaram a ter educação", diz a mãe coruja.
As meninas, ao contrário da mãe, que é artesã, querem fazer faculdade e trabalhar "sério".
Estrela diz ainda que quer casar e ter filhos –uma vida organizada, "até por não ter tido tudo isso". Brisa concorda: "Quero ter uma vida comum".
A mãe das duas, quando jovem, queria "revolucionar a humanidade". Já Brisa e Estrela não pensam em mudar o mundo. "A nossa geração é muito individualista", diz Estrela.
Mas até ela própria? Ela diz que sim: "A gente não tem mais essa obrigação de ser honesto, a gente sabe que talvez tenha que fazer algumas coisas que não sejam muito legais."

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