São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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O azul mais azul

SÉRGIO AUGUSTO

RIO DE JANEIRO – As duas coisas que mais chamam a atenção na telenovela "Pátria Minha" são os generosos seios da Vera Fischer e a abertura do Hans Donner. Os primeiros, como sói acontecer, estão deixando a moçada com àgua na boca. Da abertura, contudo, só ouço falar mal. Pobre, de mau gosto, picham de todo lado. Inadequada, digo eu. Aquele labirinto pede um Kafka depois, não um Gilberto Braga.
Quanto à musica de fundo –o samba unfanista de Alcyr Pires Vermelho, Alberto Ribeiro e Braguinha, "Onde o Céu Azul É Mais Azul"-, o mínimo que posso dizer é que a escolha não podia ter sido melhor. Afinal de contas, "Pátria Minha" é uma novela-exaltação. Não apenas dos seios da Vera Fischer, mas acima de tudo do Brasil e, mais especificamente, do Rio e suas inefáveis belezas naturais.
Apesar dos pesares, ainda há gente decente e solidária por aqui, inclusive, por incrível que pareça, na classe empresarial. Isto, ao menos, é o que a novela nos tenta vender todas as noites. Com o ingênuo otimismo e os habituais exageros de praxe.
Para início de conversa, nosso céu não é mais azul que o de regiões mais frias, nem mais azul que o das savanas africanas. Para não falar dos canyons norte-americanos, nem dos faroestes dirigidos por Anthony Mann. Mas a crença medrou, encheu de brio patriótico hinos, poesias e discursos. Por que Ribeiro e Braguinha haveriam de se contentar apenas com o verde que beija as nossas brancas praias sem fim?
O melhor do samba, no entanto, é a música do Alcyr, que a compôs meio na marra já lá se vão 54 anos. Lançado por Francisco Alves, foi gravado mais duas dezenas de vezes, boa parte por orquestras (Severino Araújo, Bernard Hilda, Luis Arruda Paz, Peruzzi, Silvio Mazzuca) e, agora, na versão global, por Roger Henri, eletrônico demais pro meu gosto.
O vocal feminino (Felicidade Suzy) é uma raridade no prontuário do samba, feudo masculino até 1985, quando Ana Mazzotti o ressuscitou. Para uma novela onde as mulheres se sobressaem mais que os homens, a opção por uma cantora foi, no mínimo, uma feliz coincidência.

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