São Paulo, terça-feira, 2 de agosto de 1994
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Martírio

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Hoje começa tudo de novo, não há escapatória. A cada eleição, o mesmo martírio: horas e horas de blablablá a invadir todas as casas com o besteirol pré-eleitoral.
Desta vez a dose é cavalar: além de postulantes a presidente, há os que buscam uma boquinha no Senado, na Câmara, na Assembléia Legislativa e ainda ao Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador por aqui.
A disputa pelo governo do Estado do Rio de cara já parece enredo de filme do polêmico e iconoclasta cineasta britânico Peter Greenaway. Em cena, o general, o artista, o radialista popular, o político profissional e o sindicalista mauricinho.
São eles os personagens –respectivamente o general Newton Cruz, o ator Milton Gonçalvez, o radialista Anthony Garotinho, o ex-prefeito Marcello Alencar e o ex-sindicalista e vereador Jorge Bittar– da nova novela do horário nobre.
Independente do teor das propostas, da honestidade, das boas intenções e do talento de cada um, o fato é um só: estes senhores não deveriam ter o direito (assim como qualquer outro candidato a qualquer coisa) de invadir a televisão (e o rádio) do cidadão-eleitor.
Aliás cidadão-eleitor compulsório, uma vez que a idiossincrática instituição do voto obrigatório permanece entre nós, como prova do atrelamento perpétuo deste país a hábitos e costumes retrógrados.
Pouco há a fazer a não ser protestar. Afinal, é a lei e, embora não pareça, esta deve ser cumprida.
Só nos resta torcer, portanto, para que a baixaria não seja muita –posto que ela aparecerá, como de praxe. E que em meio à demagogia também tradicional salvem-se algumas idéias efetivamente sérias no sentido de dar alguma esperança ao vivente neste Estado tão desmilinguido que é o Rio.
Aos de paciência pouca ou tolerância limitada, fica o recurso de apagar a TV, calar o rádio e remoer a impotência.

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