São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Família de Habyarimana vive na miséria

CRAIG NELSON

Napoleão tinha Santa Helena, Ferdinand e Imelda Marcos o Havaí. A família do falecido presidente de Ruanda, Juvenal Habyarimana, tem um armazém mal conservado num pequeno porto lacustre do leste do Zaire.
Alegando miséria, fome e abandono do exterior, cerca de 200 membros do clã do antigo presidente de Ruanda vivem nos andares sujos, com salas de cinco metros quadrados sem iluminação, normalmente usadas para armazenar sacas de café não torrefado de 50kg.
Um representante da família Habyarimana disse que pediram comida e medicamentos a grupos internacionais de auxílio, mas não houve resultado.
Como se para lembrá-los da fortuna que já não têm, dois integrantes da família morreram recentemente de cólera, doença que matou aproximadamente 20 mil refugiados ruandeses na região.
"Fomos abandonados por todos", disse Margerite Mary, sobrinha do antigo presidente e porta-voz da família.
De acordo com um porta-voz da ONU, Panos Moumtvis, os grupos de assistência não auxiliam refugiados fora dos campos oficialmente designados a eles.
Mary disse que sua família é grande demais para se transferir para um campo de refugiados.
O exílio é frequentemente humilhante para as famílias de governantes derrubados, mas em poucas ocasiões foi tão desolado.
Este pequeno porto à margem do lago Kivu, a cerca de 10km ao sul de Goma, é uma coleção de barracos arruinados e armazéns quase demolidos –dificilmente o cenário a que a família Habyarimana está acostumada.
Do lado de fora da apertada sala de armazenagem ocupada por Mary, seu marido e cinco filhos, uma dúzia de batatas cozinhavam numa fogueira. As batatas eram a única comida de todo o dia para a família.
Do lado de dentro, sua filha, de 16 anos, suava e olhava para o teto. Ela está contaminada com cólera, disse Mary, chorando silenciosamente.
Contadora educada na Bélgica, Mary era diretora da companhia nacional de seguros de Ruanda até ter que fugir para o Zaire por causa do ataque dos rebeldes tutsis da FPR (Frente Patriótica Ruandesa), que venceu a luta contra o governo da etnia rival, os hutus, na guerra civil do país.
A esposa de Habyarimana já havia sido evacuada para Paris pelas tropas francesas, em abril.
Tradução de Paulo Migliacci

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