São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Pedale para ver o mundo de outro ângulo

CARLOS KAUFFMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos meios de transporte são tão versáteis para uma viagem de turismo como a bicicleta. Com a mesma perspectiva do caminhar, o cicloturista acumula quilômetros dignos de veículos motorizados.
As estradas tornam-se dispensáveis. Os postos de combustível, inúteis. O contato com a natureza é absoluto –e a recepção de um visitante sobre duas rodas quase sempre vira festa.
"Se você chega a pé em um lugar estranho, cansado e sujo da viagem, as pessoas te acham um vagabundo. Se você chega do mesmo jeito de bicicleta, é sempre bem-vindo. Ela quebra barreiras sociais", diz Alexandre Rizzo, 31.
Rizzo já fez duas viagens longas de bicicleta, a maior delas em 91 –de Nice, no sul da França, ao Cairo, no Egito. O percurso, de 6.000 quilômetros, foi vencido em quatro meses e meio.
A opinião de que é preciso ter condição física de atleta para fazer cicloturismo é falsa, segundo os que já experimentaram a atividade.
"É mais importante ter espírito esportivo que preparo físico para viajar", afirma o fotógrafo Carlos Eduardo de Almeida, 24, o Lalo.
Com mais dois amigos, Lalo percorreu a Patagônia argentina e chilena em 1990. "Ninguém era fanático por bicicleta, mas ela deu a chance de fazer longos percursos próximo ao meio ambiente", diz.
Viagens menores, mas nem por isso menos agradáveis, são um bom começo para principiantes.
Uma das primeiras viagens do engenheiro civil Pedro Ricciardi Neto, 30, foi pela estrada Rio-Santos. Demorou 15 dias, ida e volta.
Pedrito, como é chamado, teve a idéia de fazer a viagem conhecendo um canadense que estava na estrada havia dez meses.
"Ele me deu dicas que sigo até hoje", diz. Entre elas: "Pedalar de bermudas não muito curtas, usar óculos e levar roupas adequadas para cada tipo de clima, além de ter o equipamento em ordem e saber fazer sua manutenção".
O uso do capacete encabeça a lista de itens obrigatórios de viagem. "Não há como atender de emergência um ferimento na cabeça", afirma Pedrito. As luvas minimizam o impacto em quedas.
A bagagem deve ser distribuída em alforjes, que são bolsas postas dos lados da bicicleta. Mochilas dão menos estabilidade ao ciclista e podem agravar acidentes.
Peças de reposição devem ser levadas. "Se você tem um equipamento confiável, o que pode dar mais desgaste são corrente, câmaras e pneus", afirma o engenheiro químico Paulo Borges, 32.
Além disso, um kit com ferramentas, incluindo chave de corrente, bomba de ar e conjunto de reparo de câmaras, foi utilizado por Borges no trajeto Seattle (noroeste dos EUA)-San Francisco (Califórnia, sudoeste dos EUA), em 91.
Foram 30 dias, segundo Borges "sem estresse, na calma, numa média de cem quilômetros por dia".
O equipamento de Borges –com bicicleta e artigos de camping– foi comprado no exterior por entre US$ 1.500 e US$ 2.000. "Custaria uns US$ 3.000 no Brasil", diz.
Por uma bicicleta de "mountain bike" que tenha resistência de enfrentar uma viagem mais longa se paga pelo menos US$ 400, diz Pedrito. Elas são ideais para temporadas curtas na montanhas –três a cinco dias–, onde estar leve é muito importante. Segundo Pedrito, "pedalar na terra é o dobro ou o triplo do esforço de pedalar no asfalto".

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Sobre cicloturismo na pág. 6-18.

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