São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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É precária estrutura para viagens no país

SIMONE GALIB
DA REPORTAGEM LOCAL

O verbo viajar, segundo o dicionário Aurélio, significa andar por, percorrer, correr. Para boa parcela de brasileiros portadores de deficiência física, viajar no Brasil é um ato de coragem.
Ao contrário do que acontece na Europa e Estados Unidos, aqui não existe uma boa estrutura de turismo para quem tem problemas de locomoção ou qualquer outro tipo de deficiência.
Não há nas locadoras do país carros adaptados. Nos EUA, o usuário faz o pedido por telefone e recebe o veículo mais adequado ao seu tipo de problema.
Embora uma legislação federal determine que hotéis de uma a cinco estrelas tenham 2% de suas unidades habitacionais adaptadas e rampas de acesso, não existem estatísticas sobre quantos estão cumprindo, de fato, a lei.
O que existe, na verdade, são iniciativas ainda isoladas de hoteleiros, principalmente das grandes cadeias internacionais e de hotéis cinco estrelas, como o Maksoud Plaza em São Paulo, ou o Caesar Park Ipanema, no Rio, e o Caesar Park de Fortaleza, que adaptaram alguns dos seus quartos.
A maioria das agências de viagens também não oferece roteiros domésticos ou internacionais que possam ser cumpridos normalmente por deficientes físicos.
Frustraram projetos nesse sentido. O mais recente deles partiu da agência Tia Augusta, que levaria em julho um grupo de 40 deficientes auditivos para a Disney World, na Flórida, EUA.
"Não conseguimos fechar a excursão por falta de vendas. Os grupos têm que ser exclusivos. Os deficientes físicos, até para o próprio bem-estar deles, se sentem melhores sozinhos", afirma Luiz Felipe Fortunato, 26, diretor de marketing da agência.
Se alguém quiser embarcar numa excursão dificilmente encontrará um ônibus turístico adaptado para uma cadeira de rodas.
"Você tem que contar com a boa vontade do motorista", diz a arquiteta Silvana Serafino Cambiaghi, 34, membro do CVI (Centro da Vida Independente).
E acrescenta: "Tenho amigos deficientes com alto poder aquisitivo que não viajam aqui porque sentem medo."
Silvana, que passou dois meses viajando de carro pela Europa para uma pesquisa sobre acessibilidade, ficou impressionada com o que viu na Espanha, França, Itália e Suíça.
Nesses países, diz ela, há roteiros específicos para pessoas com dificuldade de locomoção, inclusive com ônibus também adaptados. Passarelas construídas em muitas praias facilitam o acesso das pessoas até a beira do mar.
Todos os complexos turísticos das auto-estradas oferecem banheiros adaptados e restaurantes com acesso para deficientes, afirma.
Ela ficou também satisfeita com o esquema oferecido pelos museus. No museu do Vaticano, na Itália, por exemplo, o visitante recebe um folheto em vários idiomas com todos os caminhos acessíveis. "Há muitas plataformas, feitas em estrutura de chapa metálica, que correm ao lado das escadas e podem ser removidas facilmente."
Para ela, que embarca na próxima semana para os EUA, "o Brasil está ainda engatinhando no que diz respeito à acessibilidade".

LEIA MAIS
Sobre turismo para deficientes na pág. 6-20.

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