São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Indignação e festa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é de agora que o Jornal da Globo, editado em São Paulo por Lillian Witte Fibe, tromba com o departamento de informação e propaganda, por assim dizer, da Globo. Fora os confrontos com Alexandre Garcia, houve outros, mais recentes, como no caso da muamba, que o telejornal tratou de "o vôo da alegria".
Enquanto isso o restante da emissora, sob controle, elogiava Ricardo Teixeira e fazia a caveira de Osiris Lopes. Agora acontece um novo enfrentamento, com a campanha de embelezamento do Plano Real. Enquanto o restante da rede mistifica a queda de preços, Lillian Witte Fibe mostra que a coisa não é bem assim.
A âncora começou o Jornal da Globo –na madrugada de ontem, cada vez mais tarde– com uma pergunta que evidencia o intuito de desmistificação, uma constante do noticiário. "Os salários estão congelados, certo?" Uma pausa, resposta: "Errado. O salário, que todo mundo pensou que estivesse congelado, caiu este mês."
Está aí uma cabeça de notícia que não agrada a campanha do real, melhor dizendo, de Fernando Henrique e Marco Maciel. Não foi melhor, a sequência. "O salário não mudou, mas o imposto que é descontado na fonte subiu e subiu muito. Os sindicatos já começam a reclamar." Foi "45% ou mais". Por fim, a síntese:
– O salário, que já não andava lá essas coisas, caiu de repente. Para indignação dos consumidores e preocupação da indústria e do comércio. O efeito nas vendas não vai ser bom. Já tem gente dizendo que com mais essa garfada o preço da cesta básica tem mesmo é que continuar caindo. E muito.
Horas depois e outro noticiário da Globo, sob controle, voltava à campanha do real. "Tudo baixou de preço", trombeteou o Hoje. "Os cartazes de promoção fazem a festa dos consumidores". Festa, não mais a "indignação".
No SP Já, a mesma coisa. Em Bauru, Sorocaba, Rio Preto, "as donas-de-casa nunca viram tanta promoção". No Jornal Nacional, a mesma coisa, com uma agravante. Diante da alta inflação da Fipe, centrada nos serviços, a emissora resolveu participar e ameaçou com punição para "os prestadores de serviço por aumento abusivo".
Começando por manicures e por "oficinas mecânicas".
Lula censor
Foi uma hora fora do ar, devido à representação de Lula. Depois, mais uma hora com os pastores e telefonistas calados, em resposta. Não é que o 25ª Hora não tenha merecido a punição, mas a revolta silenciosa dos pastores tem as suas razões. A cada eleição aumenta o pendor petista para a censura.

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