São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Zé Celso monta 'Ham-Let' no Parque Lage

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

José Celso Martinez Corrêa trouxe sua companhia teatral Uzyna Uzona ao Rio e encena a partir de amanhã no Parque Lage (Jardim Botânico, zona sul) seu "Ham-let".
"São Paulo é a usina e o Rio é a uzona. A crise tornou as duas cidades distantes, mas para mim elas continuam sendo uma coisa só", diz o diretor, aparentemente recuperado da pericardite (inflamação do pericárdio, membrana que envolve o coração) que sofreu.
Depois de seis meses em cartaz no Oficina de São Paulo, a montagem chega ao Rio com uma novidade no elenco: a atriz Cristiane Torloni, que interpretará a rainha Gertrude.
"Essa não é uma adaptação feita por acadêmicos de gabinete, mas por gente que é puta de teatro. E teatro no Brasil tem que ser de corpo inteiro, com rebolado e ginga", define o diretor.
Serão oito apresentações na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde há lugar para cerca de 400 pessoas. Dia 11 de setembro, a trupe estará de novo no Oficina, em São Paulo, para a inauguração oficial do teatro.
Com quatro horas e meia de duração, "Ham-let" vai mostrar o próprio diretor atuando num palco carioca depois de 21 anos. Corrêa vagará pelo palco e pela platéia como o pai-fantasma do personagem principal.
Isso se a noite não estiver muito úmida, já que ainda está sob cuidados médicos. Caso não possa atuar, entra seu reserva, o ator Leonardo Monteiro.
"Meu problema não era só no pulmão e no coração. Se achasse isso, não estaria curado. Tive de encontrar uma nova posição filosófica diante de mim mesmo", afirma Corrêa.
Sem saber a causa do mal que lhe acometeu –"os exames não revelaram"–, suspeita que ela esteja ligada à "batalha de abrir o Oficina com 'Ham-let' ", segundo ele, uma peça baseada na lírica da MPB.
"O perído elizabetano é muito próximo da realidade brasileira. Quem assistir nossa versão vai perceber Caetano, Cazuza e Oswald de Andrade. Na versão inglesa, se percebe os Beatles".
Otimista e com gestos mais largos do que nunca, Corrêa diz acreditar que o teatro brasileiro e o país podem "renascer como o futebol".
"Temos atores e textos para renovar. O país está superando um certo cinismo. É necessário reinventar as coisas", afirma.

Peça: Ham-let
Direção: José Celso Martinez Corrêa
Onde: Escola de Artes Visuais do Parque Lage (r. Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico, zona sul do Rio, tel. 021/226-1879
Quando: sábados, às 21h, e domingos, às 19h, até dia 28
Quanto: R$ 10,00

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