São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Lobisomem sofre de ansiedade

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Lobisomem é 'animal ansioso'
Quase tão recorrente nas telas quanto o vampiro, o lobisomem é um mito quase tão antigo e disseminado na superstição popular quanto o morto-vivo. Por que o lobo? Porque era o maior rival do homem no tempo das cavernas. E é o "animal ansioso" por excelência, segundo Freud, um dos muitos fascinados pela mística canibalesca, satânica e sexualmente perversa da licantropia.
Cúmplice da noite, como Drácula, também como o Príncipe das Trevas sua malignidade é transmitida através da corrente sanguínea e seu ritualizado extermínio exige uma arma especial, não uma estaca, mas uma bala de prata. Prata como a cor da lua, o regente de sua metamorfose. Infelizmente, ao contrário do vampiro e outras espécies de morto-vivo (Frankenstein, por exemplo), não inspirou criações literárias notáveis. Nem filmes memoráveis.
No primeiro, "O Lobisomem de Londres", de 1935 e que mais parecia uma variação de "O Médico e o Monstro", um botanista (Henry Hull) caía em desgraça ao pesquisar uma flor maldita no platô tibetano. Maior êxito alcançou a aparição seguinte: "O Homem-Lobo" (The Wolf Man, 1941), com Lon Chaney Jr. e o maquiador Jack Pierce impondo a persona definitiva do monstro.
Embora liquidado por uma bala de prata no último rolo de seu "début" cinematográfico, o licantropo de Chaney Jr. ressuscitaria ao lado de Frankenstein (em 1943), Drácula (em 1944) e da dupla Abott & Costello (às voltas com a criatura de Mary Shelley, numa comédia de 1948).
A sina do lobisomem, contudo, é sofrer. E assim foi nas reencarnações, pouco mais de uma dezena, registradas entre 1956 e 1986. Nas duas extremidades, uma aventura ("O Homem Lobo") da qual só guardei as belas paisagens do lago Bear, na fronteira de Utah com Idaho, e o primeiro susto da série "O Grito de Horror", dirigido por Joe Dante.
Nas demais oportunidades, o lobisomem emulou James Dean ("I Was a Teenage Werewolf"), atacou no México ("La Casa del Terror"), depois em Londres de novo, finalmente em Washington (gigolando o escândalo Watergate) e na Sicília (no primeiro episódio de "Kaos", dos irmãos Taviani). Nove anos atrás, mais uma graçola, desta feita juvenil: "Teen Wolf - O Garoto do Futuro", com Michael J. Fox fazendo da licantropia um elixir.
Convenhamos, não é um bom prontuário. Faltou ao lobisomem um Murnau ou mesmo um Terence Fisher. Que em vez de Francis Ford Coppola tenha pego Mike Nichols é a prova definitiva de seu caráter maldito.

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